Título: Grupos estrangeiros enfrentam problemas societários e financeiros
Autor: Leila Coimbra e Cláudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 21/01/2005, Empresas &, p. B1

Algumas empresas estrangeiras de energia que atuam no Brasil ainda não conseguiram superar as suas crises, apesar do setor começar a dar sinais positivos com o novo marco regulatório e a recuperação financeira da maioria das companhias. Os infortúnios que algumas companhias passam são de natureza societária - caso das brigas societárias da AES na Cemig e da Alliant Energy na Cataguazes Leopoldina - , ou de ordem financeira, cujo caso mais latente é o da Eletricité de France (EDF) e sua subsidiária Light . Há ainda o caso da americana El Paso, que se acertou com a Eletrobrás por mais três anos como fornecedora da energia à estatal em Manaus, mas que ainda tem pendentes os contratos de térmicas com a Petrobras (Macaé Merchant) e com a Copel (Araucária). O caso mais sensível é o da distribuidora Light, controlada pela francesa EDF, onde uma sucessão de problemas tornam difícil a recuperação financeira da empresa. Os acionistas aguardam um desfecho para a questão do último reajuste tarifário concedido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) à Light. A empresa foi condenada pela Aneel a devolver aos consumidores o que recebeu "a mais" no reajuste de 2003, e essa decisão causará uma perda anual de R$ 500 milhões à Light. A empresa recorreu e aguarda resposta. Por conta destes entraves no Brasil, alguns destes grupos chegaram a ameaçar deixar o país. Um dos casos é o da americana Alliant, que aguarda solução para a briga que trava com os seus sócios na holding Cataguazes Leopoldina, da família Botelho. O diretor da Alliant no Brasil, Carlos Eduardo Miranda, diz que apesar da recuperação macroeconômica brasileira, da retomada do consumo de energia e da estabilização do câmbio, um fator microeconômico é que definirá os rumos da empresa no Brasil: uma decisão da Corte de Arbitragem da Câmara de Comércio Internacional (ICC), sediada em Paris, sobre a validade ou não de uma Assembléia Geral Extraordinária (AGE )convocada pelos controladores da Cataguazes que resultou em uma redução do capital da empresa e na venda de ativos. Essa decisão é esperada para março, segundo Miranda, e dela dependerão os próximos passos da Alliant no país. "Se a decisão da corte for favorável aos nossos interesses e, não só ficaremos no Brasil como poderemos até pensar em novos investimentos. Se a decisão for contrária, repensaremos nossas estratégias". A Alliant entrou na Cataguazes em 2000, quando comprou ações preferenciais da holding. Os investimentos da americana no Brasil somam US$ 450 milhões. Miranda diz que a possibilidade de deixar o país nunca foi descartada, mas também nunca se bateu o martelo sobre essa questão. "Fazemos uma avaliação sistemática sobre o retorno ou não dos investimentos no país". Também vive um imbróglio no país a americana AES, que ainda não conseguiu buscar uma solução para o calote que deu no BNDES do pagamento de uma dívida de aquisição de parte da Cemig. Apesar de ter resolvido junto ao BNDES a questão do "default" de outra subsidiária sua, a Eletropaulo (Hoje a AES e o BNDES são sócios na holding Brasiliana de Energia, que controla a Eletropaulo, a AES Tietê e a térmica de Uruguaiana), a AES e o BNDES ainda não se entenderam sobre o problema da Cemig. A AES entrou na Cemig em 1997, por meio de um consórcio (o SEB, em parceria com a americana Mirant e com o Opportunity) que comprou por R$ 1 bilhão (US$ 1 bilhão pelo câmbio da época) 33% da Cemig, pagando prêmio de 100%, para compartilhar a gestão da empresa. O direito de gestão, porém, foi cassado pelo governo mineiro na gestão Itamar Franco. Para adquirir a participação na Cemig , o SEB contraiu empréstimo de US$ 526 milhões no BNDES e as ações da elétrica foram dadas em garantia. A dívida com o banco estatal não foi paga e, corrigida, estaria na casa dos R$ 3 bilhões. O objetivo da AES era recuperar os direitos na Cemig e receber os dividendos. Assim eles julgam que teriam como acertar o empréstimo. Procurada, AES disse que preferia não se pronunciar sobre o assunto Recentemente, a empresa americana resolveu parte dos problemas financeiros pendentes de outra subsidiária, a AES Sul. A distribuidora gaúcha foi sempre considerada um problema e ainda não faz parte da holding Brasiliana. A assessoria da AES disse que o BNDES tem prazo até julho para dizer se aceita ou não a distribuidora sob o controle da holding. A AES Sul conseguiu há poucos dias concluir o alongamento de e uma dívida de US$ 265 milhões que venceria em 2004 e 2005 para até 2012. Do débito total, 60% venceriam em 2004 e 40% este ano, e a empresa não teria fluxo de caixa para honrar os compromissos. A reestruturação da dívida era uma das condições para incorporar a distribuidora gaúcha à holding.