Título: Caixa abre megalicitação de R$ 1,3 bi para loterias
Autor: João Luiz Rosa e Talita Moreira
Fonte: Valor Econômico, 21/01/2005, Empresas &, p. B3

A atenção das grandes empresas de tecnologia da informação (TI) que atuam no país vai convergir para Brasília durante a próxima semana. Na segunda-feira, a Caixa Econômica Federal (CEF) abre uma megalicitação, de mais de R$ 1,3 bilhão, para escolher os fornecedores de sua rede de casas lotéricas. Os jogos são um negócio bilionário para a CEF, que só no ano passado arrecadou R$ 4,3 bilhões com as loterias federais. O processo de seleção pela Caixa envolve quatro licitações diferentes, cujos pregões se estendem até o dia 31. Só os dois principais contratos - para fornecer serviços de telecomunicações e 25 mil computadores - vão movimentar, respectivamente, R$ 546 milhões e R$ 523 milhões. As outras licitações têm valores menores e incluem o fornecimento de suprimentos, como volantes de loterias e bobinas para impressoras, além da distribuição do material pela rede lotérica. Este, aliás, é o alvo do primeiro pregão. Os demais ocorrem nos dias 26, 28 e 31. Ao todo, serão equipados cerca de 9 mil pontos espalhados pelo país, incluindo mais de 8 mil casas lotéricas e 400 distribuidores fixos e ambulantes, cuja atuação é mais restrita.

A indústria, claro, está animada. No dia 30 de novembro, quase um mês antes da publicação dos editais, em 22 de dezembro, a maioria das grandes companhias de TI enviou representantes à audiência pública sobre as licitações promovida pela CEF. A lista de presença inclui gigantes como IBM, HP, Diebold Procomp, Cisco e Unisys; grandes operadoras de telecomunicações, a exemplo da Telefônica, Embratel, Telemar, TIM e Brasil Telecom; e companhias brasileiras de portes diversos, como Itautec, CPM e Positivo. Não é garantia de que todas elas participarão do processo. As companhias não precisam apresentar suas propostas previamente. As ofertas são entregues no próprio dia do leilão, junto com a documentação exigida e as referências técnicas. Depois, os vencedores têm um prazo para comprovar suas qualificações. Independentemente do número de participantes, a realização dos pregões logo no início do ano é vista como um sinal de que os investimentos públicos em TI, muito represados nos últimos anos, podem finalmente voltar a fluir. Muitos executivos e analistas de mercado prevêem um crescimento de dois dígitos nos investimentos de TI neste ano e consideram a retomada das compras do governo um dos elementos principais na composição desse cenário. A projeção da consultoria IDC, uma das mais respeitadas no setor, é de que os negócios podem chegar a US$ 11 bilhões, com crescimento de até 10% em relação a 2004. "Nos dois primeiros anos do atual governo federal, os gastos em TI foram muito contidos. Há uma demanda represada que deve começar a acontecer agora", diz Fábio Costa, presidente da IDC. Segundo o executivo, é no setor público que estão as projeções de maior crescimento nos orçamentos de TI. "As licitações da Caixa não parecem um fato isolado." A japonesa Nec, uma das empresas que vai participar da licitação da rede de telecomunicações da CEF, confirma que as perspectivas são promissoras em relação ao setor público. "Estatais e governo estão voltando a investir para modernizar a planta de telecomunicações", diz Paulo Castelo Branco, presidente da companhia. Nas últimas semanas, a Nec venceu duas concorrências públicas, substancialmente menores que a da Caixa. Um dos contratos é para integrar a rede de telecomunicações do Tribunal de Contas da União (TCU), no valor de R$ 1 milhão. Outro projeto, que renderá R$ 1,5 milhão à Nec, prevê a implantação de uma rede de telefonia sobre internet (IP) para os Correios, também na capital federal.