Título: Novartis define Brasil como base estratégica na região
Autor: Catherine Vieira
Fonte: Valor Econômico, 21/01/2005, Empresas &, p. B6

O Brasil vai se firmar este ano como a grande plataforma estratégica na América Latina da Novartis, multinacional suíça do setor farmacêutico. Segundo Luiz Villalba, diretor para América Latina da Novartis, hoje o pais concentra pouco menos de 70% da produção total da região e, somente em 2005, o objetivo e aumentar este percentual para 85%, reduzindo a participação da Argentina e do México. Os investimentos de R$ 100 milhões que já haviam sido anunciados para o Brasil este ano serão, na verdade, de R$ 120 milhões. Deste total, cerca de R$ 30 milhões serão destinados ao início da produção de genéricos, na fábrica de Taboão da Serra (SP), e R$ 70 milhões para a reativação de parte da unidade de Resende (RJ), onde será produzido o principio ativo do Diovan, principal medicamento da companhia. Outros R$ 20 milhões serão aplicados na manutenção das instalações fabris brasileiras. "O Brasil será o nosso grande centro estratégico, onde vamos produzir boa parte do que se vende na região e mesmo em outros países", disse Villalba. Essa ênfase no Brasil se intensifica num momento em que o presidente mundial da companhia, Daniel Vasella, acaba de visitar o país e de ter um encontro oficial com o presidente Lula. Encantado com os resultados da economia brasileira em 2004, apontados por ele como os melhores dos últimos tempos, Vasella ainda faz, no entanto, ressalvas ao ambiente regulatório brasileiro, particularmente com a discussão sobre quebra de patentes e propriedade intelectual. Ele citou a questão especifica do programa de tratamento para Aids do governo brasileiro e lembrou que quebras de patentes desestimulam os investimentos em pesquisa de novos medicamentos. Para o executivo, caso o Brasil consiga mostrar maior estabilidade de regras, pode tornar-se mais atrativo para investimentos. "O Brasil quer investimentos, a indústria está disposta a isso, mas não se pode, por um lado, pedir mais dinheiro e, por outro, retirar a propriedade intelectual", disse Vasella. Com o início da produção de genéricos em Taboão da Serra, previsto para este ano, o Brasil passa a ser a segunda planta na América Latina a produzir este tipo de medicamento. A primeira foi a da Argentina. Segundo o presidente da Sandoz (marca de genéricos da Novartis), Andreas Rummelt, será aproveitada uma capacidade ociosa da fábrica paulista, a segunda maior da Novartis, para o início da operação. Essa decisão coincide ainda com a estratégia comentada por Rummelt de concentrar a produção em países com menor custo. Segundo o diretor da América Latina, no ano passado o Brasil já ultrapassou o México em vendas da chamada área de farmacêuticos (remédios com patentes) e pode superar os mexicanos em vendas totais. Enquanto o volume de vendas da Novartis no Brasil está em R$ 930 milhões, o México alcança cerca de R$ 1,2 bilhão. "O setor de OTC (produtos sem prescrição médica) é muito promissor no Brasil este ano e também em genéricos há uma expectativa de crescimento", justifica Villalba. Um outro grande objetivo, de acordo com Villalba, é duplicar ou até triplicar o volume de recursos aplicados em pesquisa clínica no Brasil. Hoje, o país recebe cerca de US$ 3 milhões por ano para esta finalidade, o que é considerado muito pouco para o capital intelectual existente no Brasil. "Para se ter uma idéia, na Argentina esses investimentos são de US$ 7,5 milhões por ano", lembrou Villalba. Segundo ele, há obstáculos burocráticos no Brasil que não existem no país vizinho. "O processo de aprovação nos hospitais e de protocolo na Anvisa são muito demorados", explicou o executivo.