Título: Com mudança na Embrapa, Rodrigues conclui reforma
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 21/01/2005, Agronegócio, p. B10

A troca do agrônomo Clayton Campanhola pelo físico Silvio Crestana no comando da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) concluiu nesta quinta-feira a reforma na estrutura do Ministério da Agricultura. Costurada pessoalmente pelo ministro Roberto Rodrigues há pelos menos um ano, a saída de Campanhola era considerada essencial para redirecionar a atuação da estatal e mesmo para desenvolver novos projetos no ministério. Pesquisador da Embrapa Instrumentação Agropecuária, em São Carlos (SP), Crestana formou-se em Física pela USP em 1976, fez mestrado em Física Básica e doutorado em Física Aplicada. Tem pós-doutorado em Ciência do Solo e do Ambiente pela Universidade Califórnia-Davis (EUA). Especialista em estudos dos impactos da agropecuária nos recursos da água e do solo, o filho de pequenos agricultores e neto de imigrantes italianos deve ajudar a aproximar os modelos de agricultura familiar e agronegócio no governo. Campanhola trombou com Rodrigues por ser inicialmente contra pesquisas voltadas para o agronegócio. Apoiado pelo PT e pelo sindicato da Embrapa, radicalizou na opção pela pequena agricultura. Com a saída de seu padrinho do governo, o ex-ministro do Combate à Fome, José Graziano, ele mudou o discurso e perdeu o apoio de algumas de suas bases no PT. O novo secretário-executivo do ministério, o petista Luís Carlos Guedes Pinto, jogou com Rodrigues e auxiliou a transição na Embrapa em conversas com Graziano, hoje assessor especial da Presidência. Guedes, que havia sido indicado pelo ex-ministro para presidir a Conab, também ajudou a quebrar as resistências dos ministros Marina Silva (Meio Ambiente) e Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) à mudança na Embrapa. Antes de mudar o comando na Embrapa, Rodrigues já havia trocado os secretários José Amauri Dimarzio (Executivo), Maçao Tadano (Defesa Agropecuária) e Valdemiro Rocha (Apoio Rural e Cooperativismo). Avalizado pelo chefe da Casa Civil, José Dirceu, o ministro jogou politicamente com PMDB e PT para levar novos técnicos com perfis mais executivos. Para a Defesa, levou o agrônomo Gabriel Maciel, secretário de Produção Rural do governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcellos - crítico contumaz do governo Lula. Foi para o posto de Tadano, técnico indicado pela bancada de Mato Grosso e próximo da indústria de defensivos. Para o Apoio Rural e Cooperativismo, nomeou o agrônomo Márcio Portocarrero, que já tinha sido convidado a assumir a secretaria em 2003. Com forte apoio no setor cooperativista, ele foi titular de cinco diferentes secretarias em Mato Grosso do Sul. É muito próximo do governador Zeca do PT e só não assumiu o cargo antes por oposição do próprio governador. Sucedeu Rocha, um petista acreano do grupo do governador Jorge Viana e do senador Tião Viana. Na nova estrutura, Rodrigues criou duas áreas: a secretaria de Relações Internacionais, que será ocupada pela economista Elizabete Seródio, e a Assessoria de Assuntos Estratégicos, a ser dirigida pelo pesquisador da Embrapa Elísio Contini. Campanhola foi convidado a presidir o Pólo Nacional de Biocombustíveis, em Piracicaba (SP). Ficou de pensar.