Título: Empresas aproveitam para pagar as dívidas
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 21/01/2005, Finanças, p. C1

As empresas aproveitaram o ambiente de abundância de dólares em 2004, criado pelo forte saldo em conta corrente e pela retomada dos investimentos diretos, para amortizar uma boa parte da dívida externa vencida durante o ano passado. As captações de médio e longo prazo (mais de um ano) das empresas privadas, sob a forma de emissão de papéis e empréstimos diretos, somaram US$ 9,071 bilhões, o que representa apenas 65% dos US$ 15,109 bilhões em dívida externa que venceram. "As empresas estão procurando reduzir as dívidas que consideram mais caras", afirmou o chefe-adjunto do Departamento Econômico do Banco Central, Luiz Sampaio Malan. As renovações da dívida externa têm se concentrado sobretudo nas empresas ligadas a setores exportadores, que têm receitas em dólar. A taxa de amortização foi mais elevada entre os títulos - foram renovados no ano apenas 49% dos US$ 12,071 bilhões em papéis que tiveram vencimento. Nos dados parciais de janeiro, até o dia 20, a taxa de renovação vem se mantendo ainda menor: apenas 13% dos vencimentos. No caso dos empréstimos diretos, porém, houve mais captações do que amortizações - os empréstimos contraídos somaram US$ 3,786 bilhões, ou 127% os pagamentos. No levantamento parcial de janeiro, a taxa se mantém em 36%. Esses pagamentos líquidos vêm contribuindo para a redução da dívida externa privada e do setor público financeiro de longo prazo - que caiu de US$ 74,950 bilhões para US$ 69,281 bilhões entre dezembro de 2003 e setembro de 2004, o dado mais recente, divulgado ontem. Também há pagamentos líquidos de compromissos do setor público. As amortizações relativas a bônus, organismos, FMI e Clube de Paris somaram US$ 13,341 bilhões, enquanto as entradas de recursos nessas fontes chegaram a US$ 8,551 bilhões. No ano, também foram feitos pagamentos líquidos de juros, de US$ 5,497 bilhões. Essa estratégia permitiu uma redução da dívida externa do setor público de médio e longo prazos, de US$ 119,785 bilhões para US$ 115,381 bilhões, entre dezembro de 2003 e setembro de 2004. A exemplo do setor privado, o Tesouro foi buscar no mercado de câmbio os dólares que permitiram reduzir o endividamento. O Tesouro usou US$ 7,335 bilhões adquiridos em mercado para fazer pagamentos da dívida externa. O BC comprou US$ 5,274 bilhões em mercado, que reforçaram as reservas e ajudaram a pagar a dívida externa. (AR)