Título: Câmbio e energia preocupam
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 14/08/2007, Brasil, p. A7

No cenário traçado pelos empresários para o futuro, novos "apagões" preocupam. Na área de infra-estrutura, o principal deles é o de energia, seguido pelo gargalo nos portos. Na macroeconomia, o câmbio tomou o lugar dos juros como principal temor.

Para o presidente do grupo Telefónica no Brasil, Antonio Carlos Valente, um eventual descompasso entre a oferta e a demanda de energia é o gargalo de infra-estrutura mais grave. "A grande preocupação de todos os setores é que haja um crescimento maior da oferta de energia", destacou. Para o presidente da Serpro, Marcos Mazoni, os portos são o maior gargalo de infra-estrutura que o país enfrenta, pois eles afetam toda a cadeia produtiva. "O Brasil teve uma defasagem de investimentos em infra-estrutura durante décadas. Os esforços que têm sido feitos não chegam a cobrir isso", afirmou.

O diretor financeiro da Souza Cruz, Luis Rapparini, ao contrário, situa como principal risco a excessiva valorização da moeda brasileira. "O apagão nosso é o câmbio. Nos preocupa esse custo Brasil. Nossas exportações são de US$ 350 milhões", explicou. O diretor-presidente da Usina Bazan, Ângelo José Bazan, explica que o problema do setor sucroalcooleiro é a expansão desordenada. Há muitas indústrias surgindo e o consumo não está acompanhando a demanda interna, afetando o preço. Como grande exportadora, a empresa também lista o câmbio como principal apagão.

Para Rubens Ghilardi, presidente da Copel, o principal gargalo hoje no país é o energético. Segundo ele, o PAC pode ajudar a superar os problemas de infra-estrutura, mas na área elétrica o governo teria de tomar soluções emergenciais. "O último leilão de energia à base de gás não apareceu ninguém, nem a Petrobras", disse.

O vice-presidente do Makro, Rubens Batista Júnior, não acredita em colapso no abastecimento de energia, mas, segundo ele, " os preços da energia vão subir. Aliás, tomara que sim. O aumento dos preços é a única maneira de o país evitar o apagão", afirma. Para Décio da Silva, presidente da WEG, o apagão de energia é o que mais preocupa. "É preciso acelerar os investimentos nessa área e garantir competitividade das empresas no mercado interno, reduzindo carga tributária e ajustando o câmbio para evitar o risco de desindustrialização de alguns setores."

"Como empresa de consumo intensivo de energia, a Sabesp acaba tendo que ficar atenta ao planejamento energético do país", diz Gesner de Oliveira, presidente da estatal. "Para nós interessa ter energia barata, por isso, sempre olhamos com cuidado esse setor."

Rodney Montenegro, presidente da Owens do Brasil, lista os "pesadíssimos impostos" como o que mais atrapalha a tendência de crescimento econômico do país. O executivo aponta ainda a complicada legislação. "É difícil trabalhar em um país onde surge um ou dois novos decretos-lei por dia."