Título: Crise "passageira" vai deixar o Brasil crescer
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Fonte: Valor Econômico, 14/08/2007, Brasil, p. A7

A economia brasileira está preparada para enfrentar a forte turbulência do mercados internacional e a crise pode ter, inclusive, um caráter sadio de correção de ativos que estavam sobrevalorizados, segundo avaliação dominante entre empresários presentes, ontem, à solenidade de premiação da "Empresa de Valor", escolhida entre 27 campeãs setoriais do anuário "Valor 1000". A empresa eleita foi a WEG, em solenidade prestigiada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.

Para a maioria dos executivos, a crise tende a ser passageira e não vai contaminar a economia real. As previsões para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) estão sendo mantidas - elas situam-se entre 4% e 5%-, mas várias empresas projetam para seu faturamento um percentual bastante superior ao da média da economia, a exemplo do que já aconteceu nos últimos dois anos com as maiores empresas do país. A WEG, projetava 15% de alta em 2007 e já espera um percentual superior.

Os empresários avaliam que os fundamentos da economia brasileira estão mais sólidos do que em crises anteriores, o que torna o país bastante capaz de enfrentar turbulências. "Pode ser apenas um ajuste e até ter a conseqüência positiva de trazer um pouco mais de racionalidade ao mercado", observou o presidente do grupo Telefónica no Brasil, Antonio Carlos Valente, que projeta alta de 4% para o PIB.

Afonso Hennel, presidente da Semp Toshiba, acredita que a atual turbulência nos mercados internacionais não deverá contaminar o bom desempenho da economia brasileira. "São problemas muito distantes do Brasil e do nosso setor", diz o executivo da companhia, uma das maiores fabricantes de televisores do país. Para o presidente da Serpro, Marcos Mazoni, a recente crise externa é um " soluço" que não deve ter impacto no desempenho da economia brasileira. A empresa prevê uma expansão de 4,5% do PIB neste ano - seguindo o número estimado pelo governo no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

O diretor-presidente da Videolar, Lírio Parisotto, vê aspectos positivos na crise financeira. "Acho saudável esse tipo de correção porque a corda estava muito esticada em diversos setores", afirmou o Parisotto. O problema, avalia, é muito localizado no segmento imobiliário dos EUA e os mercados já reviram os valores dos ativos. "O grande problema é se a crise afetar a China", argumenta.

Para o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), ainda é prematuro tentar avaliar o impacto da crise externa na economia nacional. "Estamos num mundo globalizado. É natural que haja uma repercussão, mas não conhecemos ainda a extensão da crise", ponderou.

Entre os observadores que seguem com a atenção o cenário de turbulência externa para entender até que ponto a crise atual pode afetar os ativos reais esta o presidente da International Paper, Máximo Pacheco. "Mas não existe razão para pânico", afirmou Pacheco. De acordo com o executivo da IP, o Brasil pode tirar vantagem deste cenário porque os capitais podem buscar posições de investimentos em ativos com bons fundamentos. "Assim como existe um "fly to quality ? (vôo para a qualidade), pode haver um movimento ? fly to Brazil", comparou.

Alguns empresários mostram temor maior com possíveis contágios da crise. O vice-presidente do Makro, Rubens Batista Júnior, acredita que a crise no mercado de crédito imobiliário nos EUA passou a ser um risco. "O pior é que se trata de um risco não quantificado. Não dá para saber ainda qual é a extensão desta crise", avalia o executivo. "Se a economia americana for afetada, o Brasil certamente também será afetado. É impossível acreditar que não", afirma.

O diretor-financeiro da Souza Cruz, Luis Rapparini, também olha com cautela para o cenário externo. "A crise financeira não é passageira, ela vai se aprofundar ainda um pouco. Há necessidade de correção de ativos", diz ele. O Brasil tem um colchão, que são as reservas internacionais, acrescenta. "Por enquanto, isso nos sustenta".

O presidente da Natura, Alessandro Carlucci, também acredita que o Brasil ainda está vulnerável. O que mais o preocupa é o fato de o governo dar sinais claros de que não irá fazer as reformas necessárias, como a tributária, previdenciária e trabalhista. "O Brasil não tem um diferencial competitivo", completa, afirmando que o PAC ajuda pouco. Mesmo assim, sua expectativa de crescimento é de 14%.

O presidente da Visanet, Antônio Luiz Rios da Silva, avalia que a crise no mercado de crédito imobiliário internacional poderá desacelerar a economia brasileira se tiver continuidade, pois pode ter impacto nas taxas de juros. Porém, ele acredita que o modo como os bancos centrais americano e europeu têm atuado tende a surtir efeito e conter a turbulência. "E o Brasil não é diretamente afetado porque não tem esse tipo de mecanismo de crédito", ponderou. A Visanet prevê expansão de 4,5% a 5% do PIB em 2007.

O presidente da WEG, Décio da Silva, não vê impacto da crise financeira dos últimos dias nos negócios de sua empresa. Para Silva, é natural essa volatilidade nas bolsas, pois os ativos se valorizaram muito em tempo. O executivo se diz confiante com a expansão econômica do país. Ele traçou uma meta de crescimento de vendas de 15% no início do ano, que foi superada no primeiro semestre. "Acredito que vamos fechar o ano acima desse índice", informou.

Para Gilnei Machado, presidente da Telemont Engenharia de Telecomunicações, que trabalha no segmento de telefonia fixa, a crise externa não chegará a afetar o nosso país. "O Brasil fez o seu dever de casa, conta com um trabalho de retaguarda e também com as reservas. Enquanto outros países têm de apelar para o seu bancos centrais, o nosso BC não vai precisar colocar a mão no caixa", afirma.

Outro que vê o risco-Brasil muito menor é o diretor comercial da Fiat, Lélio Ramos. "Não existe mais risco no país", afirma o executivo, para quem "o país está menos sensível aos problemas mundiais". O que preocupa o setor é a queda na capacidade de exportação.

O presidente da Alpargatas, Márcio Utsch, não vê um crescimento acelerado para o setor calçadista. A Alpargatas mantém o plano e o cronograma de investimentos previsto para este ano, de R$ 103 milhões.