Título: Produtividade na indústria acelera e sobe 3,5% no semestre
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 14/08/2007, Brasil, p. A8

O ritmo de crescimento da produtividade na indústria brasileira ganha força neste ano. De janeiro a junho, aumentou 3,5% em relação à primeira metade de 2006, período em que tinha crescido 2,6%. Segundo analistas, o movimento se deve principalmente à onda de investimentos produtivos feitos pelas empresas nos últimos trimestres. O grande destaque é a expansão ocorrida de abril a junho, de 4%, salto considerável em relação aos 2,9% do primeiro trimestre. O cálculo, da LCA Consultores, compara a produção física da indústria com o número de horas pagas aos trabalhadores.

Com o investimento e a produtividade em alta, a economia está preparada para crescer a taxas mais elevadas sem que isso provoque pressões inflacionárias mais fortes, avalia o economista Bráulio Borges, da LCA. Um ponto positivo é que o aumento da produtividade ocorre com o crescimento simultâneo da produção e do número de horas pagas. Não é um ganho de eficiência obtido com queda do emprego. No primeiro semestre, por exemplo, a quantidade de horas pagas cresceu 1,3%, enquanto a produção teve alta de 4,8%.

"A aceleração da produtividade reflete a aceleração da maturação dos investimentos", avalia Borges. Ele estima que, no segundo trimestre, a formação bruta de capital fixo (FBCF, medida do que se investe na construção civil e em máquinas e equipamentos) cresceu 12,1% em relação ao mesmo período do ano passado. Para 2007, Borges prevê expansão de 10,6% da FCBF, que já havia crescido expressivos 8,7% em 2006.

A coordenadora da Pesquisa Industrial Mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Isabella Nunes Pereira, lembra que a produção e a importação de bens de capital crescem com força. "Com a compra de máquinas novas, as empresas costumam adotar técnicas de produção mais modernas", afirma ela, o que tende a aumentar a produtividade.

No primeiro semestre, a produção de bens de capital cresceu 16,7% em relação ao mesmo período do ano passado. O principal destaque ficou por conta da fabricação de peças agrícolas, com alta de 80,7%. A produção de bens para fins industriais aumentou 20,8%.

A importação também aumenta bastante. De janeiro a junho, elas tiveram alta de 30,7%, segundo números da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex). Compras externas de bens de capital são positivas, porque estão associadas à absorção de novas tecnologias, afirma Isabella.

Para o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Edgard Pereira, a adoção de técnicas mais modernas de gestão também ajuda no crescimento da produtividade, mas, a exemplo de Borges e Isabella, ele também aponta a expansão dos investimentos como o fator mais importante para explicar o processo. "Quando uma empresa substitui ou acrescenta uma nova máquina, há ganhos de eficiência", afirma ele.

Pereira diz que o setor privado tem investido mais devido à combinação de um nível de utilização de capacidade instalada (Nuci) mais elevado e da perspectiva de crescimento mais forte da demanda. Quando percebem que suas empresas estão mais próximas do limite de sua capacidade produtiva, e ao mesmo tempo acreditam que a economia vai crescer, os empresários se sentem estimulados a investir, resume ele.

Depois de subir de janeiro a maio, o Nuci divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) teve queda em junho. Para Borges, investimentos e produtividade em alta levam a uma capacidade produtiva mais elevada. Em maio, o nível de utilização bateu em 82,6%, caindo para 82,2% em junho, na série livre de influências sazonais.

Ele ressalta ainda outro ponto importante: a evolução favorável do Custo Unitário do Trabalho (CUT) neste ano. Medida que compara a variação dos salários reais (descontada a inflação) por trabalhador e da produtividade, o CUT acumula queda de 0,7% nos quatro trimestres encerrados em junho, diz Borges.

"Isso significa que a produtividade cresce a um ritmo superior ao dos salários", resume ele. É um sinal de que os reajustes salariais não devem empurrar a inflação para cima. No segundo trimestre deste ano, o custo unitário do trabalho teve queda de 1,1%, num período em que a produtividade aumentou 4% e os salários reais avançaram 2,9%.

Para Borges e Pereira, esses números mostram que há espaço para o Banco Central continuar por um bom tempo o processo de redução da taxa Selic. Borges acredita que, mesmo se houver desaceleração do ritmo de corte dos juros de 0,5 para 0,25 ponto percentual, a partir da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o afrouxamento da política monetária pode seguir de modo ininterrupto pelo menos até o fim do primeiro semestre do ano que vem.