Título: Aversão a risco atinge empréstimo externo
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 14/08/2007, Finanças, p. C1

A redução no apetite por risco como decorrência na crise de hipotecas nos Estados Unidos chegou ao mercado de empréstimos bancários externos. Desde o dia 26 de julho, quando a crise atingiu as bolsas, as empresas brasileiras não lançaram mais eurobônus nem fizeram emissões iniciais de ações. Agora, depois de mais de quatro anos de liquidez disponível crescente, há operações de crédito externo dos bancos sendo suspensas.

"O mercado de empréstimos para empresas de maior risco se retraiu e algumas transações estão em compasso de espera", diz Luis Eduardo de Moricz, diretor de mercado de capitais do espanhol BBVA no Brasil. Segundo ele, para as empresas que são grau de investimento - têm o selo de investimento não-especulativo -, o andamento dos empréstimos continua normalmente. "Mas, poderemos ter aumento nos prêmios de risco de crédito cobrados", diz Reynaldo Passanezi, presidente do BBVA no Brasil. "Os preços mudaram e os prazos também tendem a encurtar."

Passanezi lembra que, como os mercados de eurobônus e de emissão de ações estão fechados, há menos alternativas de financiamento para as empresas. "Hoje, há menos concorrência para o crédito bancário", afirma.

A crise das hipotecas, no entanto, também cria oportunidades de aquisição para as empresas brasileiras no mercado internacional e local, lembra. O custo médio ponderado de capital das companhias para financiar as compras sobe, mas cresce mais ainda para os alavancados fundos de private equity - que compram a empresa tomando dívida para vender depois com lucro.

"Há uma mudança na correlação de forças e o investidor estratégico passa a ter mais competitividade em relação ao investidor profissional", afirma Passanezi. O aperto na liquidez internacional chega a inviabilizar a atuação dos fundos de privaty equity, pois muitos nem conseguem financiamento e outros temem não conseguir vender a empresa por causa da queda das bolsas, o que reduz a demanda pelas aquisições de companhias e portanto o seu preço.

"As empresas que vão realizar compras e têm sinergias mais prováveis com a companhia adquirida vão sair ganhando", avalia. O presidente do BBVA conta que, neste momento, o banco está assessorando seis empresas brasileiras em processos de aquisição de outras empresas no mercado internacional, além de uma empresa estrangeira que está vendendo ativos no Brasil.

A instabilidade nos mercados, que Passanezi considera passageira, não altera o planejamento de longo prazo do BBVA no Brasil, diz. O objetivo do banco é continuar focando sua atuação no mercado de fusões e aquisições, além de ampliar sua carteira de empréstimos externos e número de clientes, inclusive entre as médias empresas exportadoras do setor de agribusiness. Desde que Passanezi assumiu, há um ano, os ativos do BBVA com risco-Brasil cresceram de US$ 2,5 bilhões para US$ 4 bilhões. A idéia é continuar a crescer essa carteira, com grande foco nos empréstimos com o guarda-chuva dos organismos multilaterais, que reduzem o risco das transações e voltam a ser competitivos neste momento.