Título: Renan faz discurso de conciliação às vésperas da perícia da PF
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 15/08/2007, Política, p. A5

Renan: "Os tensionamentos políticos, eventualmente, produzem discussões mais acaloradas que nossa serenidade gostaria" Para não perder mais aliados e e tentar esvaziar a obstrução da pauta de votações que a oposição ameaça fazer no Senado, o senador Renan Calheiros recuou e fez ontem um discurso de conciliação com os colegas. Semana passada, Renan chegou a dizer que o senador José Agripino Maia, líder da bancada do Democratas, não resistiria a uma devassa em seu patrimônio e negócios. Desta vez, Renan falou do plenário e não da cadeira de presidente do Senado, mas não foi aparteado.

Antes de discursar, Renan telefonou para Agripino pedindo desculpas pelo que falou semana passada. Do lado de fora, o P-SOL liderava uma pequena manifestação pela renúncia do senador. A perícia nos documentos que Renan apresentou para justificar a fonte de seus rendimentos, que a Polícia Federal promete apresentar amanhã, deve ser uma peça decisiva na definição do futuro imediato do senador. Ele é alvo de três representações no Conselho de Ética por suposta quebra do decoro parlamentar.

O presidente do Senado aproveitou-se da entrada em cena do empresário João Lyra, seu adversário na política alagoana e de pouca credibilidade, para tentar se recompor com os senadores. "Agora que a fragilidade das acusações começa a ficar evidente, buscam fomentar a cizânia, criar mexericos, indispor-me com outros senadores". Primeiro, citou o senador Jefferson Péres, que já pediu sua renúncia, como um "caráter sem jaça, referência moral, figura ímpar a quem reconheço como paradigma a ser seguido", disse.

O parágrafo seguinte foi dedicado ao líder do DEM, Agripino Maia, pelo qual renovou "apreço". Segundo Renan, "os tensionamentos políticos, eventualmente, produzem discussões mais acaloradas que nossa serenidade gostaria". E reiterou sua "admiração por ele". Conciliador, o presidente do Senado disse que defende "as soluções negociadas", ser um "homem do diálogo, da concórdia, da convergência". Numa resposta aos que o acusam de usar o cargo para constranger senadores e funcionários, afirmou: "Tentar intimidar colegas é uma indignidade sem tamanho. Para isso ninguém absolutamente contará comigo".

Renan só manteve a agressividade contra a revista "Veja", que publicou a reportagem na qual acusa o senador de ter despesas custeadas por uma empreiteira, e a João Lyra, "acusado de vários homicídios, e réu confesso" em crimes fiscais.

Com o discurso conciliatório, Renan tenta esvaziar a ameaça da oposição de obstruir a pauta. Com o Senado paralisado, sua situação poderia ficar insustentável. Aliados do senador, no entanto, dizem que se trata de "uma obstrução de vento", pois não há assunto urgente na pauta do Senado. Desde o dia 25 de maio, quando surgiu a denúncia, a 13 de agosto último, o Senado votou 207 matérias. Na avaliação feita por líderes governistas e pelo próprio Renan, o projeto que prorroga a cobrança da CPMF, este sim, vital para o governo, somente deverá chegar ao Senado, depois de apreciado pela Câmara, entre o fim de outubro e o começo de novembro.

Renan conta também com a divisão que existe na oposição em relação ao assunto. Entre os tucanos, por exemplo, o governador José Serra, de São Paulo, e o presidente do PSDB, Tasso Jereissati, têm posições inteiramente contrárias sobre a prorrogação da CPMF. Há divergências no próprio DEM, partido contrário à prorrogação. Na avaliação do grupo de Calheiros, a situação internacional, cujos desdobramentos ainda não podem ser precisados, também deve reduzir a margem de manobra da oposição, que ficaria numa posição ficaria desconfortável, se negasse ao governo uma arrecadação de R$ 39 bilhões, num momento de incertezas na economia.