Título: Argentina vai liderar novos investimentos em gás na Bolívia
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Fonte: Valor Econômico, 15/08/2007, Internacional, p. A9

A Argentina se encaminha para assumir a posição de principal investidor no setor de hidrocarbonetos na Bolívia, depois de a Repsol-YPF e a Andina terem anunciado planos de investimentos de US$ 1,1 bilhão no país - só o plano da Repsol projeta US$ 900 milhões nos próximos três anos. Já a Petrobras sugeriu que deve investir pouco no país, apenas o suficiente para manter a produção nos níveis atuais.

Com esses investimentos, a Repsol-YPF e a Andina pretendem elevar a exportação de gás boliviano para 27,7 milhões de metros cúbicos diários em três anos. A atual exportação de gás boliviano para a Argentina chega atualmente a um máximo de 7,7 milhões de metros cúbicos. O presidente argentino, Néstor Kirchner, havia prometido investir diretamente na Bolívia, caso as empresas privadas não aumentem a sua produção.

A Petrobras e a francesa Total ainda estão negociando com o governo boliviano seus planos de investimentos, mas já deram indícios de que não vão fazer grandes novos aportes.

A empresa brasileira é hoje a principal investidora na Bolívia e calcula ter aportado lá US$ 1,4 bilhão, com contratos de exportação de gás para o Brasil de 30 milhões de metros cúbicos diários. Mas a companhia deu uma guinada estratégica ao priorizar a construção no Brasil de usinas de regaseificação de gás liquefeito. Com isso, espera diminuir a dependência em relação ao vizinho andino.

O governo exige que as empresas realizam investimentos que aumentem a produção de gás do país, caso contrário ameaça cassar as concessões hoje em vigor. "Esses campos nos quais não investirem nós vamos retomar sem medo, porque não temos que ter medo de empresas que não investem. Não queremos empresas que sejam como o cachorro do dono da horta, que não come nem deixa comer", disse na semana passada o presidente boliviano, Evo Morales.

Apesar da pressão boliviana, o diretor financeiro e de relações com investidores da Petrobras, Almir Barbassa, disse anteontem, durante a apresentação dos resultados da empresa, que só planeja fazer investimentos na Bolívia "para manutenção dos campos em atividade".

Para Yussef Akly, diretor da Câmara Boliviana de Hidrocarbonetos (CBH, entidade que reúne empresas privadas no país), "o importante agora é excluir da discussão política um setor que é eminentemente técnico".

La Paz deu destaque ao anúncio de que a Repsol e sua subsidiária Andina chegaram a um acordo sobre investimentos, uma exigência dos novos contratos, que entraram em vigor depois da estatização dos hidrocarbonetos, levada a cabo em maio do ano passado. Há quase dois anos as incertezas em relação à Bolívia vêm afugentando investidores.

O governo boliviano parece jogar mais suas fichas na cooperação entre Estados: na semana passada, Kirchner se encontrou com Morales em Tarija, na Bolívia, para assinar um crédito de US$ 450 milhões para a construção de uma usina separadora de líquidos de gás natural. A planta será o início do processo de industrialização de gás da região boliviana de Chaco, com exportações do fluído para a Argentina, que vive uma crise energética.