Título: Renda agrícola deve crescer 12%
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 15/08/2007, Agronegócios, p. B15

O setor rural vive uma fase de significativa recuperação de renda, mas ainda bastante concentrada nas lavouras de soja, cana e milho dos Estados de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Levantamento consolidado pelo Ministério da Agricultura projeta uma elevação de 12,1% na receita do setor, o que deve gerar um extra de R$ 12,2 bilhões ao bolso dos produtores em 2007. Pelo cálculos, baseado em dados do IBGE e da Fundação Getúlio Vargas, a renda do setor passaria de R$ 101,2 bilhões, em 2006, para R$ 113,5 bilhões neste ano.

Os grandes números escondem, porém, fortes nuances entre os Estados e as 20 principais lavouras avaliadas no estudo. Daí a necessidade da diferenciação nas políticas públicas por regiões e produtos que tem sido defendida pelo governo nas recentes renegociações de dívidas. As situações são muito diferentes. Em franca retomada dos negócios no setor, os produtores do Paraná devem engordar sua renda em R$ 3,1 bilhões (+26,5%). No Rio Grande do Sul, o resultado deve ser R$ 2,1 bilhões superior ao registrado em 2006 (+19%), quando os efeitos da forte crise nos grãos frearam um período de bonança no campo.

Mesmo com os bons efeitos gerados pela cana, os produtores de São Paulo devem ter um acréscimo de receita de apenas 3,4% - ou R$ 740 milhões. "A situação atual reafirma a tese de que a agricultura vai bem, mas o agricultor vai mal", diz o secretário paulista de Agricultura, João Sampaio. A melhor performance na retomada deve caber a Minas, onde a renda crescerá 48,4%, para R$ 8,14 bilhões. Em Mato Grosso, a elevação deve ser de R$ 1,8 bilhão (+18,5%), mas o resultado ainda ficará abaixo do registrado em 2005. "Sem resolver a questão cambial, não conseguiremos sair do lugar", afirma o presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Marcio Lopes de Freitas.

A análise dos dados por culturas mostra que a renda ligada à produção de soja deve saltar de R$ 22,8 bilhões para R$ 27 bilhões (18,5%). No milho, as receitas passariam de R$ 11,6 bilhões para R$ 16 bilhões (38%). E na cana, de R$ 18,6 bilhões para R$ 21,4 bilhões (15%). "Nesses três casos, é bastante visível o efeito do crescimento da demanda mundial por etanol", avalia o coordenador-geral de Planejamento Estratégico do Ministério da Agricultura, José Garcia Gasques.

Há, entretanto, segmentos em franca desvantagem. Pelo quarto ano consecutivo, a renda no café recuará - de R$ 4,8 bilhões para R$ 4,1 bilhões (-17%). Na laranja, a receita total cairá de R$ 8,1 bilhões para R$ 7,6 bilhões (-6,5%). Os produtores de feijão também devem continuar a perder, passando de uma receita de R$ 4,3 bilhões para R$ 3,6 bilhões (-19%), segundo os dados do ministério.

Beneficiados pelo recente movimento de sustentação dos preços internacionais, os produtores de algodão devem elevar em 28,5% sua renda neste ano, de R$ 2,8 bilhões para R$ 3,6 bilhões. E depois de uma safra marcada por extrema dificuldade, os produtores de trigo devem registrar o melhor desempenho no setor rural, com 94% de elevação na receita, que deve saltar de R$ 877 milhões, em 2006, para R$ 1,7 bilhão neste ano.