Título: Palocci e Temer amansam ânimos
Autor: Pariz, Tiago ; Iunes, Ivan
Fonte: Correio Braziliense, 12/01/2011, Politica, p. 2

Diante da iminente ampliação da crise na base aliada por conta de nomeações no segundo escalão, a presidente Dilma Rousseff escalou o chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, para enquadrar o PMDB e determinou ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que encerre a disputa com o líder peemedebista Henrique Eduardo Alves (RN).

O Palácio do Planalto montou uma operação que teve início ainda na segunda-feira e estendeu-se por todo o dia de ontem. Com procuração de Dilma, Palocci deu um recado claro: ¿O PMDB é governo e não aliado¿, disse o chefe da Casa Civil durante reunião com o vice-presidente, Michel Temer, o ministro de Relações Institucionais, Luiz Sérgio, e Alves. O tom ríspido foi seguido por Temer, que, dirigindo-se ao colega peemedebista, afirmou: ¿Se somos todos governo, temos de agir como governo.¿

O curto circuito estourou quando Padilha decidiu demitir Alberto Beltrame, ligado a Henrique Alves, da Secretaria de Atenção à Saúde e indicar o petista Helvécio Magalhães para o cargo. Dilma já havia passado determinação de fazer uma limpeza em todas as indicações políticas nas estatais, que deveriam ser ocupadas por técnicos com experiência na área. Com base nessa ordem, Padilha fez uma série de alterações, que causaram indignação entre os peemedebistas. Para dar o troco, o PMDB decidiu barganhar a nomeação com a votação do salário mínimo e a eleição da Presidência da Câmara.

Na manhã de ontem, Palocci cobrou empenho de todos os lados para conter a crise. ¿Se a primeira metade do caminho deu errado, a segunda metade pode melhorar. Nós precisamos conversar à exaustão¿, disse o chefe da Casa Civil aos participantes.

A operação culminou com um encontro entre Alves e Alexandre Padilha. ¿Reestabeleceu-se o clima amistoso. O Padilha foi quem mais ajudou o PMDB quando era ministro da Secretaria de Relações Institucionais. De repente, por falta de comunicação, criou-se um curto-circuito, mas agora está tudo bem¿, afirmou Alves, depois de passar meia hora no gabinete de Padilha no Ministério da Saúde.

Essa reunião foi acertada na noite de segunda-feira. Padilha ligou para o deputado pedindo a conversa. Henrique disse que se reuniria, mas pediu um encontro, antes, com Michel Temer para ver qual posição levaria ao ministro. Palocci, no entanto, já havia tomado a frente e acertado uma reunião ampliada. Antes de se encontrar com o deputado, Padilha já buscava acalmar a tensão. ¿A minha preocupação é com a Saúde do país. A preocupação na Funasa é traçar objetivos e estabelecer metas para o saneamento rural¿, disse o ministro, desconversando e limitando-se a dizer que a Presidência da Funasa só vai sair depois de muita conversa. ¿A decisão sobre equipe será tomada depois de ouvir a todos. Não tem prazo para decidir a Funasa¿, afirmou o ministro.

Sem lista Além de ter acertado que não haverá disputa por espaço e que todos os cargos serão conversados com antecedência, o PMDB prometeu não entregar mais uma lista de reivindicações a Dilma. Outro acerto: haverá esforço incansável para eleger o deputado Marco Maia (PT-RS) como presidente da Câmara. Alves participou de almoço para reforçar o apoio ¿ a maior ameaça do PMDB na disputa por cargos era a de ajudar outro parlamentar na disputa. Depois, o líder peemedebista foi ao encontro de Padilha. ¿O almoço teve como função hastear uma bandeira branca. O que existiu foi um estranhamento que abriu possibilidades prejudiciais¿, explica o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP).

Ficou acertado entre as legendas que Maia participará de um almoço no Rio de Janeiro com a bancada peemedebista, para oficializar a união em torno da campanha do petista. Com o aval do aliado, o candidato à Presidência da Câmara intensificará as conversas. A cada deputado, entregará um vídeo e um texto com as propostas para comandar a Casa. Maia ligará pessoalmente aos cerca de 200 novos deputados para apresentar a candidatura. Estão marcados encontros com o PSDB em São Paulo, com o DEM em Santa Catarina, além de uma reunião com a bancada da Bahia, no dia 19. ¿A ideia é não ter blocos, respeitar a proporcionalidade na composição da Mesa e nas relatorias¿, afirmou Henrique Alves. ¿O PMDB tem compromisso de honra com o Marco Maia¿, emendou o líder do partido na Câmara.

Agenda com sul-americanos » No 11º dia de governo, Dilma Rousseff manteve a discrição no Palácio do Planalto, apesar da agenda cheia. Ontem, a petista recebeu ligação do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que desejou sucesso à gestão de Dilma. Os dois irão se encontrar em 16 de fevereiro, em Lima (Peru), durante a 3ª Cúpula América do Sul-Países Árabes (ASPA), e discutirão agenda bilateral. Antes disso, no fim do mês, Dilma vai à Argentina e ao Uruguai cumprir agenda de trabalho com os presidentes Cristina Kirchner e José Mujica. Ontem, a presidente despachou com alguns ministros, entre eles José Eduardo Cardozo (Justiça), Antonio Patriota (Relações Exteriores) e Alfredo Nascimento (Transportes). A assessoria não informou a pauta das reuniões.

Posse espinhosa de Costa

Josie Jeronimo

O senador eleito Humberto Costa (PT-PE) iniciará os trabalhos na liderança do PT no Senado com uma missão espinhosa: indicar um nome da bancada de 15 parlamentares para a Vice-Presidência da Casa. De acordo com o novo líder do PT, o partido tentará consenso para decidir entre os senadores eleitos Marta Suplicy (SP) e José Pimentel (CE). ¿Marcamos para o dia 27 a reunião para decidir quem irá nos representar. Temos dois nomes. Vamos tentar trabalhar por um consenso¿, afirmou. O petista quer evitar a decisão por meio do voto, para manter a unidade da bancada. O senador Delcídio Amaral (MS) também é cotado para assumir a Vice-Presidência do Senado.

Humberto Costa substitui Aloizio Mercadante, agora ministro de Ciência e Tecnologia, na liderança do partido na Casa. O petista de Pernambuco afirmou que pretende manter o acordo da proporcionalidade e apoiar a indicação do PMDB para a Presidência. ¿Nós estamos naquela posição de respeito à proporcionalidade. Vamos apoiar o nome que o PMDB indicar.¿ Lideranças peemedebistas articulam para que José Sarney (PMDB-AP) continue no cargo.

Além de equilibrar as forças internas para resolver a indicação para a Vice-Presidência do Senado, Humberto Costa chega à liderança com a missão de dialogar com a base governista sobre o valor do salário mínimo de 2011. De acordo com o líder, o governo já acenou com a possibilidade de dar reajuste superior aos R$ 540 previstos no Orçamento da União (leia mais na página 3). Agora, caberá à equipe econômica estabelecer um teto para não causar rombos nas contas da União. ¿O governo já abriu uma janela. Não somente com os partidos da base e movimentos sindicais. Há uma preocupação com a recomposição do mínimo. Será dessa negociação do governo com setores que virá uma proposta possível de suportar, para recuperar as perdas que ocorreram ao longo do tempo.¿

Como ex-ministro da Previdência, Costa afirma que a análise de mudanças no fator previdenciário, pauta prevista para o primeiro semestre do legislativo, deverá ser assunto espinhoso. ¿Todas essas questões são difíceis. Vamos fazer o máximo para manter ganhos da aposentadoria, levando em consideração as prioridades do governo.¿

Lula, a presença visível

» Doze dias depois da transferência da faixa presidencial, a presença de Lula permanece firme no Palácio do Planalto. Pelo menos na decoração dos gabinetes. A foto do ex-presidente ainda não foi substituída pelo retrato da nova chefe do governo federal. Dilma Rousseff participou de uma sessão de duas horas com o fotógrafo oficial da Presidência, Roberto Stuckert Filho, em frente ao Palácio da Alvorada, no fim de semana. O material será ampliado para passar pelo crivo da presidente. Depois, será reproduzido e emoldurado para, enfim, substituir a antiga foto, ainda pendente na parede.