Título: Microsoft amplia serviços no Brasil
Autor: Rosa, João Luiz
Fonte: Valor Econômico, 16/08/2007, Empresas, p. B2

Steve Berkowitz tem uma maneira simples de comparar seu antigo emprego - o de executivo-chefe do site de busca Ask.com - da posição atual: a de capitão da Microsoft na guerra contra o Google e o Yahoo pela supremacia na internet. "O Ask.com era um barco a remo", diz ele. A embarcação era pequena e pouco confortável, mas o leme era fácil de virar. Já a Microsoft é um iate de luxo. "Há muito mais recursos, mas mudar seu curso também é mais difícil."

Ontem, em sua primeira visita ao Brasil, Berkowitz deu uma demonstração do rumo que considera o mais correto para a Microsoft. Na posição de vice-presidente sênior do Online Services Group - a divisão de internet da companhia - ele lançou dois produtos em português: o Live Search Maps, um serviço de busca que utiliza mapas em 3D, e o Live Search Products, pelo qual o usuário pode encontrar produtos e fazer comparações entre eles.

É esse tipo de experiência que os usuários de internet querem, diz o executivo - serviços baseados na tecnologia, mas que não requerem dos usuários um conhecimento mais profundo de como ela funciona. Parece simples, mas para a Microsoft, que nasceu e fez fortuna vendendo software, é um desafio. "A Microsoft é muito boa em construir tecnologia, mas está aprendendo que tem de vender um conjunto de experiências, não tecnologia", afirma o executivo. "É preciso pensar como uma empresa de mídia."

A comparação com as companhias de mídia não é gratuita. À semelhança das emissoras de rádio e TV, por exemplo, não é o consumidor que sustenta a maioria dos serviços de internet. É a publicidade on-line. Trata-se de uma disputa muito diferente da que a Microsoft tem travado até agora, em seu negócio central de vender licenças de software. A companhia é a maior do mundo nesse mundo, mas tem perdido batalhas importantes na publicidade on-line.

Em junho, segundo a empresa de pesquisa Nielsen/NetRatings, a Microsoft aparecia em terceiro lugar entre os 10 principais mecanismos de busca nos Estados Unidos, com uma participação de 13,3% contra 20,2% do Yahoo e 52,7% do Google. No ranking de outra empresa, a comScore, a posição é semelhante. O Google lidera, com 49,5%, seguida do Yahoo, com 25,1%. A Microsoft aparece depois, com 13,2%.

Outro termômetro é o próprio balanço da companhia. No ano passado, o lucro operacional da divisão on-line da Microsoft foi de US$ 111 milhões - um volume de dinheiro considerável tomado isoladamente, mas pequeno perto dos ganhos totais, de US$ 16,4 bilhões. Comparativamente, o desempenho foi inferior ao de 2005, quando os negócios de internet representaram um lucro operacional de US$ 477 milhões frente a ganhos totais de US$ 14,5 bilhões.

Em busca de uma reação, a Microsoft quer aproveitar seus pontos fortes na web na tentativa de criar uma rede de serviços em que um produto alimente o outro com a audiência dos internautas e, consequentemente, a atenção dos anunciantes.

A idéia é cruzar audiências gordas como a de seu serviço de mensagens instantâneas Windows Live Messenger - que reúne mais de 30 milhões de usuários só no Brasil - com produtos novos, a exemplo do SoapBox, de vídeo, que está em versão de teste, e os serviços lançados ontem.

O Live Search Maps oferece um serviço de rota para 170 cidades e dados atualizados de trânsito. O usuário pode localizar endereços comerciais e adicionar os resultados em uma lista de interesse de restaurantes, teatros, cinemas etc. No Live Search Products, uma parceria com o site BuscaPé, é possível comparar detalhes de produtos, além de preços. Ambos estarão disponíveis em um mês.

A maior expectativa, no entanto, é pelo novo mecanismo de busca que está sendo preparado pela Microsoft. "A previsão é de que a nova versão será lançada entre outubro e novembro, com bilhões de documentos a mais e novas ferramentas de interface com o usuário", diz Berkowitz.

Com o novo sistema, a Microsoft espera diminuir a distância em relação ao Google, como já fez em outras áreas antes disso. "Nosso sistema existe há dois anos e meio, enquanto o do Google tem quase nove anos", compara o executivo. "Nossa tecnologia é nova, mas estamos recuperando terreno."