Título: Câmbio mantém superávit no início de agosto, apesar da crise
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 16/08/2007, Finanças, p. C2

A crise internacional não impediu que o mercado de câmbio brasileiro continuasse a registrar superávit, pelo menos nos primeiros dias de agosto. O Banco Central divulgou ontem estatísticas que registram um saldo positivo de US$ 3,376 bilhões nos oito primeiros dias úteis do mês.

Nesse período, estão incluídas a quinta-feira e a sexta-feira da semana passada, quando os mercado mundiais foram sacudidos pelas perdas de investidores nos mercados de hipotecas de baixa qualidade, obrigando os bancos centrais da Europa, dos Estados Unidos e do Japão a concederem empréstimos de liquidez a instituições financeiras.

Nesses dois dias, o BC brasileiro manteve sua rotina de leilões de compra de moeda estrangeira. A presença do BC causou certa surpresa porque, naqueles dias, o dólar estava em alta. Os dados divulgados ontem sugerem que o BC comprou dólares porque havia sobra no mercado de câmbio.

Os números mostram que, de fato, houve retração no fluxo de dólares financeiros. Nos oito primeiros dias de agosto, as saídas de dólares nesse segmento superaram as entradas em US$ 201 milhões. Nesse conjunto de operações, estão incluídos empréstimos de renda fixa, investimentos em ações, investimento diretos e remessa de serviços e rendas, como lucros e dividendos das empresas.

Mas essa retração deve ser vista com cuidado. Na verdade, nos meses anteriores estava havendo uma enxurrada de dólares, puxada, entre outros, por volumes extraordinários de investimentos diretos. Isso fez com que em julho tivesse havido um superávit financeiro de US$ 6,095 bilhões e, em junho, US$ 7,105 bilhões.

Uma saída de US$ 201 milhões, caso seja confirmada até o final do mês, não será muito diferente dos volumes que vinham sendo registrados até maio, quando eram observados, na maior parte dos meses, saldos da ordem de US$ 1 bilhão. Uma ponderação importante é que os dados divulgados cobrem apenas os dois primeiros dias de crise, na semana passada. No Brasil, o mercado de câmbio passou a ser afetado com maior intensidade nesta semana, o que fez com que o BC suspendesse a partir de terça-feira seus leilões de compra de moeda estrangeira. Operadores do mercado notaram que, nos últimos dias, tem havido saída um pouco mais mais expressiva de recursos no segmento financeiro.

O grosso do saldo do câmbio contratado nos primeiros dias de agosto foi produzido pelo comércio exterior, com um superávit de US$ 3,577 bilhões. Houve aceleração na venda de câmbio pelos exportadores. Em julho, eles desovavam uma média diária de US$ 683 milhões e, em agosto, estão vendendo uma média de US$ 758 milhões. É normal exportadores apressarem o fechamento de operações de cambio quando o dólar sobe, para aproveitar a cotação mais favorável. De certa forma, essa venda de moeda alivia a pressão sobre o dólar.

O espaço para que, daqui para frente, exportadores desovem dólares para aproveitar o câmbio favorável não é muito grande. Os exportadores já vinham vendendo seus dólares. Os dados divulgados pelo BC mostram que o cambio contratado pelos exportadores vem superando sistematicamente os embarques físicos desde meados de 2005. Nesse período, as empresas anteciparam receitas cambiais para aplicá-las no mercado interno, recebendo altos juros.