Título: Companheiro presidiu plenária de fundação
Autor: Fábio Santos
Fonte: Valor Econômico, 21/01/2005, EU & FIM DE SEMANA, p. 10

A primeira semente para a criação do Partido dos Trabalhadores (PT) foi semeada em julho de 1978 no Congresso Nacional dos Petroleiros, em Salvador, pelo então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, Luiz Inácio da Silva, mais conhecido por Lula. A fecundação do partido, no entanto, ocorreu apenas seis meses depois, no famigerado 11º Congresso dos Metalúrgicos de São Paulo, em Lins, no interior do Estado de São Paulo. "O resultado deste congresso é histórico e foi uma enorme surpresa para nós", diz Paulo Skromov, presidente do Sindicato dos Coureiros na época em que se iniciou o movimento para a criação de um partido só de operários, "sem patrão". "Das 32 delegações presentes, 30 votaram a favor da proposta do partido. Apenas o sindicato de Cubatão (SP) votou contra e o de São Carlos (SP) se absteve. Não por acaso, ambos eram liderados pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB)", prossegue Paulo Skromov, que hoje é dirigente regional do PT em Avaré (SP), onde mora. A surpresa na ocasião tem uma relação direta com fatos que ocorreram pouco antes do Congresso: a criação de um partido de trabalhadores já havia sido votada em novembro de 1979, por 15 dirigentes sindicais próximos a Lula, que decidiram, por 11 a 4, não levar a proposta adiante. "Muitas pessoas acreditavam que a formação do PT levaria a um divisionismo da esquerda abrigada no MDB. Outras diziam que as eleições de 1978 tinham garantido a presença de companheiros, como o deputado federal Benedito Marcílio (SP), e que, com o PT, queríamos enfraquecer o MDB", afirma. Os idealizadores do partido tinham, na época do Congresso de Lins, apenas três delegações francamente favoráveis à criação de uma legenda "sem patrão" - Santo André, São Bernardo do Campo e Santa Bárbara. "Os pelegos, capachos dos patrões, votaram conosco e não entendíamos a razão", observa o sindicalista.

"Equilíbrio fiscal e estabilidade são meios; o que queremos é redefinir os nossos parâmetros", afirma José Genoino

A aceitação da proposta de um partido de trabalhadores ocorreu, segundo Skromov, porque havia uma articulação paralela à dos sindicalistas mais à esquerda de montar um partido trabalhista no estilo conservador. "Pelegos como o Joaquim dos Santos Andrade, o Joaquinzão, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e apoiado pelos militares, tramavam, com o secretário de Relações do Trabalho do Estado, Jorge Maluli Neto, uma legenda como a do PTB, trabalhista e burocrático", observa. Os formuladores do PT, porém, estavam num movimento contrário e alternativo às propostas. Seu pilar estava na mobilização de um novo tipo de sindicalismo do ABC paulista e de outras forças, como a da Igreja progressista, lideranças democráticas e militantes marxistas independentes. Naquele mesmo ano de 1979, Lula ganhou força e muito destaque ao preparar a primeira campanha salarial depois das greves fabris do ano anterior. Em março, deu início à paralisação dos metalúrgicos do ABC, que desencadeou outras 82 greves no país nos seis meses posteriores. A greve, por outro lado, também foi motivo de uma crise entre os articuladores do PT. A razão foi o pedido de Lula, numa assembléia, para uma trégua na greve dos metalúrgicos de São Paulo após seus contatos constantes com o presidente da Federação das Indústrias (Luís Eulálio Bueno Vidigal) e outras lideranças patronais. O resultado da concessão foi um acordo negativo para os trabalhadores em termos de conquistas salariais. "Ao defender o fim da greve no estádio da Vila Euclides, em São Bernardo, Lula foi contra a lógica do movimento. E pior: não havia nos consultado. Achávamos que aquilo ia comprometer a relevância dele como líder. Muitos companheiros achavam que ele havia nos traído e choraram ao ouvi-lo", afirma. Apesar do racha, o movimento pró-PT manteve sua solidez. Em outubro, foi aprovada a declaração política do partido e, em fevereiro de 1980, a Comissão Provisória Nacional se reuniu no Colégio Sion, em São Paulo, para aprovar o Manifesto do Partido dos Trabalhadores. A plenária de fundação do PT foi presidida por Skromov. "Foi uma honra participar deste momento histórico."