Título: Críticos do Bolsa Família aceitam bolsa no exterior, diz Lula
Autor: Moreira, Ivana
Fonte: Valor Econômico, 17/08/2007, Política, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva inaugurou ontem, em Congonhas do Campo (MG), mais uma unidade de ensino técnico e voltou a criticar a falta de investimento em ensino profissionalizante em governos anteriores. Segundo ele, até o fim do segundo mandato, terão sido inauguradas 214 escolas de nível técnico no país. Mais do que as 140 criadas no país em 97 anos, entre 1906 e 2002.

Os governantes que já tinham diploma universitário abandonaram o ensino profissional, acusou Lula. A inauguração da Unidade de Ensino Descentralizado (Uned) de Congonhas, uma obra de R$ 2,4 milhões, foi pretexto para o presidente contar mais uma vez que o curso de de torneiro mecânico no Senai mudou a sua vida.

Com o diploma nas mãos, Lula conseguiu emprego numa grande indústria e renda equivalente a quase quatro salários mínimos da época. "Fui o primeiro da minha família a ter tevê, a ter geladeira, a ter casa própria", contou no discurso para estudantes da região. "Eu sei o que significa a formação profissional, por isso nós vamos gastar."

O presidente reclamou das pessoas que criticam o Bolsa Família e não questionam a bolsa de US$ 2 mil que o governo federal banca para "doutor estudar no exterior". Entusiasmado com a platéia pró-governo, Lula disse que não aceitará o preconceito e continuará gastando com os mais necessitados, garantindo que os pobres tenham escolas tão boas quanto às dos ricos.

Dirigindo-se aos jovens entre 15 e 20 anos, Lula advertiu que é preciso levar a sério os estudos para garantir uma profissão. "A preguiça de hoje será a desgraça de amanhã." Para as moças, o presidente deu conselho: "Mulher não pode casar e ficar dependendo do salário do marido." É preciso ter o próprio trabalho para não aguentar desaforo e se relacionar em igualdade de condições. A Uned de Congonhas oferecerá 1,1 mil vagas para os cursos de mecânica industrial, produção industrial e edificações.

À tarde, o presidente esteve em Campos dos Goytacazes, no Estado do Rio, onde se irritou com o protesto de um pequeno grupo de manifestantes. Onze pessoas, entre professores e estudantes da unidade do Cefet de Campos, reclamavam da falta de condições de trabalhar e estudar na unidade, cuja ampliação foi inaugurada pelo presidente. Com narizes de palhaço e apitos, eles causaram irritação também no governador Sérgio Cabral e foram ironizados por Lula: "Sérgio, deixa eu te dizer uma coisa: nunca mais fique nervoso com o pessoal que protesta, porque esse pessoal é tão jovem e desprovido de consciência política que vem protestar usando nariz de palhaço. Daqui a pouco, vai ter um movimento dos palhaços contra esse gente".

O governador fluminense, antes de começar o discurso, deu uma bronca nos manifestantes. Ele pediu ao público que vaiasse os manifestantes: "São meninos pequenos-burgueses, exercendo o mau humor e reclamando de barriga cheia. Fiquem quietos e me deixem falar. É uma meia dúzia sendo vaiada pela multidão", disse, ao engrossar o coro de vaias contra os estudantes e professores. (Com agências noticiosas)