Título: Para Tuma, situação de Renan é "delicada"
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 17/08/2007, Política, p. A6

Depois de ouvir depoimento, em Maceió, do usineiro João Lyra - que confirmou a sociedade mantida com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), numa rádio e num jornal - o corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), disse ontem que a situação do colega pemedebista é bastante delicada. "Acho que fica uma situação bastante delicada para Renan. Ele (Lyra) falou com muita convicção, se preparou, levou o advogado e uma pasta com documentos. Apresentou notas promissórias e recibos assinados por Tito Uchôa, que seria o representante de Renan na sociedade. Pedi a um delegado da Polícia Federal para me ajudar a localizar o Tito Uchôa, mas parece que ele desapareceu. Ele é uma peça fundamental para se confirmar essa história", adiantou.

Além de continuar tentando localizar Tito Uchôa, Tuma deverá ouvir hoje o depoimento de uma outra testemunha, Luiz Carlos Barreto, um jornalista que administrava a rádio e o jornal na época da transação comercial supostamente feita por Lyra e Renan, para tentar confirmar a versão do empresário alagoano.

Entre os documentos apresentados por Lyra para tentar comprovar a sociedade com Renan, apenas um era assinado pelo presidente do Senado. Mesmo assim, se tratava de um ofício no qual Renan informava Lyra que já estava regularizada a situação de uma rádio - chamada Paraíso - adquirida pelo empresário de um pastor. "Mas não considero que esse documento comprometa o senador Renan", afirmou Tuma.

Lyra, que estava acompanhado pelo advogado, em nenhum momento de seu depoimento se mostrou disposto a abrir seus sigilos bancários e fiscais para comprovar a sociedade com Renan. Segundo Tuma, o advogado do empresário disse que isso só seria feito mediante determinação judicial.

De qualquer forma, o corregedor adiantou que solicitará ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) uma pesquisa sobre a movimentação financeira de Lyra. Tuma confirmou sua disposição de investigar ainda se Tito Uchôa teria recursos para arcar com a compra da rádio e do jornal, caso ele negue a participação de Renan no negócio.

Ontem, Renan divulgou nota para rebater as críticas do usineiro João Lyra, que em carta aberta fez uma série de acusações ao pemedebista na manhã de ontem.

Renan reconheceu que recebeu Lyra em diversas ocasiões em seus gabinetes, mas negou qualquer vínculo de amizade com o usineiro. "Só estivemos juntos em palanques nas eleições de 1986. Há, portanto, 21 anos, quando ainda não havia indícios, se não a certeza, de que João Lyra era de fato um fora da lei."

O senador disse que Lyra decidiu passar a lhe atacar depois que foi "repetidamente" derrotado nas eleições de Alagoas. No ano passado, Lyra perdeu a disputa para o governador Teotonio Vilela Filho (PSDB), que teve o apoio de Renan. O presidente do Senado afirma que a carta do usineiro é um "triste retrato da mentira e da hipocrisia", que demonstra o ressentimento de Lyra.

A Mesa Diretora do Senado decidiu ontem, por unanimidade, encaminhar ao Conselho de Ética da Casa a terceira representação contra o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), referente a denúncias de que o senador teria usado "laranjas" na compra de um grupo de comunicação em Alagoas.

A exemplo das outras duas representações que já chegaram ao conselho, a Mesa Diretora entendeu que o regimento do Senado determina o encaminhamento sem a análise do mérito das denúncias. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que presidiu a reunião da Mesa, cobra agora rapidez do conselho para dar início à análise do terceiro processo contra Renan.

"O que mais desejamos é rapidez. O que mais precisamos é encerrar esta novela o quanto antes. A meu ver, o novo processo não atrapalha as investigações que já estão em curso", afirmou. (Com agências noticiosas