Título: Chile está perto de eliminar a pobreza
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Fonte: Valor Econômico, 17/08/2007, Internacional, p. A12

Num dos dias mais frios de um inverno atipicamente gelado, a casa de Sara Reyes está bem aquecida. Ela costura roupas, o que nos últimos 18 meses a ajudou a sustentar dois filhos e um sobrinho e, às vezes, dar emprego a uma irmã e duas vizinhas. Antes desempregada, ela conseguiu sua primeira máquina de costura (agora são três) no programa Chile Solidário, do governo, lançado em 2002 para combater a pobreza extrema.

Seu bairro era uma das maiores e mais pobres favelas na capital, Santiago. A maioria das pessoas agora possui geladeiras e telefones; algumas já têm carros.

"A derrota da pobreza material é uma missão que está a meio caminho ser completada", disse Benito Baranda, da entidade beneficente Hogar de Cristo. Seus abrigos hoje atendem mais viciados em drogas e pessoas com problemas psicológicos que pobres. Cerca de 500 mil pessoas ainda estão na extrema pobreza no país, mas o número é 30% menor do que em 2003.

Os índices de pobreza caíram mais rápido no Chile que em qualquer outro país da América Latina (ver gráfico). O crescimento econômico sustentável e a criação de empregos desde meados dos anos 80 são a principal explicação, embora outro fator importante seja o fato de que os chilenos estão tendo menos filhos do que no passado.

Nos últimos anos, políticas públicas, como o Chile Solidário, tiveram papel mais relevante. Nos anos 90, a pobreza caia 0,5 ponto porcentual para cada ponto de crescimento econômico. Agora, cai 1,5 ponto, segundo a ministra de Planejamento, Clarisa Hardy.

O programa Chile Solidário visa ajudar os mais pobres a se sustentar, assegurando acesso a benefícios sociais, mantendo seus filhos saudáveis e na escola e garantindo treinamento e crédito para criar pequenos negócios. Ainda é cedo para dizer se será uma história de sucesso: as primeiras 250 mil famílias miseráveis inscritas estão ainda na fase final do programa. Mas o país tem chance de acabar de vez com a pobreza nos próximos anos.

Para alguns chilenos, a linha de pobreza no país, de US$ 90 por mês, é muito baixa. Em Santiago, isso dá para comprar só quatro passagens de ônibus por dia. A distribuição de renda no Chile está ficando aos poucos menos desigual. Os 10% da população mais rica ainda ficam com 38,6% da renda nacional, embora isso seja só um pouco pior que nos EUA. Pelos parâmetros europeus, 27% dos chilenos seriam pobres, diz Juan Carlos Feres, da Cepal, órgão da ONU.

O fato de que formas alternativas de medir a pobreza estejam sendo discutidos é um bom sinal de como o Chile avançou nos últimos 20 anos. Também indica o trabalho que ainda resta por fazer.