Título: "Problemas são políticos, não técnicos", aponta CBA
Autor: Chiaretti, Daniela
Fonte: Valor Econômico, 17/08/2007, Especial, p. A18

"Tijuco Alto é viável e, tecnicamente, não há questionamentos", resume José Geraldo dos Santos, diretor de energia da CBA. "O projeto ficou muito politizado." A frase sintetiza a impressão que a resistência à hidrelétrica no Vale do Ribeira causa nos corredores da sede da Votorantim, no coração de São Paulo.

As estimativas de quanto a empresa já investiu no projeto Tijuco Alto ao longo de 18 anos são de algo próximo a 20% do total, entre projeto, elaboração de EIA-Rima, compra de terras e máquinas - como as turbinas da hidrelétrica, por exemplo.

O Plano Básico Ambiental, com ações de apoio aos cinco municípios com terras alagadas, pode contemplar do atendimento à saúde e educação à construção de pontes ou doação de balsas. O compromisso assumido aguarda o desenrolar do licenciamento para ser detalhado, como de praxe no rito ambiental. O programa de compensação de perdas à população rural prevê a realocação de famílias de meeiros que ficaram sem rumo no passado, quando os proprietários das terras onde trabalhavam venderam seus lotes à CBA. As previsões de compensação financeira aos municípios pela inundação de terras agriculturáveis podem "mudar a vida destas cidades", acredita Santos.

O conglomerado industrial liderou a busca pela independência energética - e os esforços em viabilizar Tijuco Alto, explicam os executivos, estão em sintonia com esta origem. Na década de 50, na construção da fábrica de alumínio, a Light não tinha a energia necessária para garantir a produção. "E energia mais cara é a que não existe", lembra Santos. Em 1958, aspirando fôlego para o crescimento, a CBA instalou sua primeira hidrelétrica no rio Juquiá. A Usina do França gera 29,52 MW. Seguiram-se 18, sendo 13 próprias. "Hoje a CBA sofre de pioneirismo", diz Otávio Carneiro de Rezende, diretor da Votorantim Energia.

O Brasil, lembra ele, só utiliza 27,5% de seu potencial hidrelétrico. "Como queremos ser competitivos e o Brasil quer crescer, para cada 1% de crescimento de PIB temos que ter 1,3% de crescimento na capacidade energética. E esta é a postura de um grupo que acredita que a competitividade está na hidrelétrica", diz Rezende. "Ninguém abre mão de energia hidrelétrica no mundo."

A intenção de olhar para o resto do cardápio das energias renováveis, contudo, não é excludente, continua. "Se temos a aspiração de crescer 5%, de onde tiraremos a energia?", pergunta. "Solar, eólica, biomassa, precisamos de todas." Ele pondera: "Eólica é complementar, não venta o tempo todo, e solar, a mesma coisa, além de ser mais cara. Biomassa, embora mais cara que a hídrica, é promissora - mas não tem garantia de estabilidade de safra". O resumo é que "a lógica empresarial é um 'hedge' de preço." Nesta equação, a autogeração é o que permite a uma empresa escapar do risco da imprevisibilidade dos preços. (DC)