Título: Odebrecht expande atuação internacional
Autor: Boechat, Yan
Fonte: Valor Econômico, 17/08/2007, Empresas, p. B6

Desde o ano passado, executivos da Construtora Norberto Odebrecht têm feito viagens cada vez mais constantes pelo continente africano. No roteiro, países tão distintos como a emergente África do Sul ou a ainda destroçada Libéria. Em cada um deles estão buscando oportunidades de negócio para expandir ainda mais o setor internacional da construtora, que já representa quase 70% do faturamento de R$ 7,4 bilhões obtidos pela companhia em 2006.

A África é apenas uma parte dessa estratégia da Odebrecht em reforçar sua atuação internacional aproveitando a alta demanda por obras de infra-estrutura, principalmente em países emergentes. Executivos da companhia andam perambulando também por países da América Central, do Oriente Médio e ex-repúblicas soviéticas do Leste Europeu, as áreas definidas pela Odebrecht como foco de sua expansão internacional.

O primeiro resultado dessas longas viagens por países muitas vezes exóticos para uma companhia que ainda tem sua experiência internacional fortemente calcada na área de influência geopolítica do Brasil começam a aparecer. No primeiro semestre deste ano a Odebrecht fechou seu primeiro contrato na Líbia, onde irá construir um anel viário na capital do país, Tripoli, orçado em US$ 350 milhões. Nos próximos meses a companhia espera anunciar também a vitória na licitação para construção de um novo aeroporto internacional na capital do país comandando pelo coronel Muamar Gadafi desde 1969.

Com novos negócios como esse, a Odebrecht espera ver sua carteira de contratos internacionais crescer até 20% neste ano de 2007. Isso significa um incremento de mais de R$ 3 bilhões nas receitas futuras da empresa. A expectativa é de que o faturamento também cresça nessa mesma proporção este ano, superando com folga a casa dos R$ 8 bilhões. Nessa conta entram também os contratos vencidos e em execução no território brasileiro. "A verdade é que nós poderíamos crescer mais, bem mais, se não tivéssemos uma escassez de mão-de-obra tão grande", afirma Fernando Santos-Reis que, após 14 anos rodando as américas pela companhia, chegou ao Brasil para chefiar a área internacional.

A mão-de-obra em falta a que se refere Reis não é exatamente composta pelos engenheiros que tocam as mais de 130 obras da companhia mundo a fora. "Temos falta é de profissionais com espírito empreendedor, de empresários, como chamamos aqui", diz ele. "Essas pessoas tem que estar aculturadas à Odebrecht, não podemos ir buscar no mercado".

Os tais empresários são os profissionais pinçados pela companhia para cuidar de toda a gestão de um projeto de grande porte, como a construção de dois gasodutos na Argentina ou de um terminal de contêineres no Djubti, Leste da África. "A maior parte de nossos funcionários são locais, mas a gestão não abrimos mão de ter alguém da casa, com uma média de 10 anos de experiência".

Por conta disso, a companhia acelerou seu programa de formação interna. Batizado de Jovem Parceiro, o programa seleciona estagiários e busca trainees nas principais universidades brasileiras ou dos países em que atua há mais tempo, como em Angola. Nos últimos três anos, a companhia elevou o número desses aprendizes em mais de sete vezes. Em 2003 eram apenas 64 deles. Nesse ano, o número é de quase 490.

São com esses profissionais que a Odebrecht pretende expandir ainda mais suas fronteiras. Por enquanto, a companhia está decidida a concentrar os esforços nas três regiões onde já tem presença. Nas Américas a companhia atua em dez países e está presente há 30 anos. No Oriente Médio atua nos Emirados Árabes Unidos, mas já teve presença no Kuait e no Iraque. Na África a companhia está em Angola há mais de 20 anos, e hoje atua também no Djbuti e na Líbia.

A África e a América Central são os dois continentes onde a Odebrecht acredita estar mais próxima de conquistar novos contratos. Além da Libéria e da África do Sul, a empresa também pretende retornar em breve à Moçambique, onde já atuou. Na América Central a grande aposta é na Costa Rica e em Honduras. "Na nossa avaliação os grandes países asiáticos, como China e Índia, ainda não são nossa prioridade", afirma Santos-Reis.

Dentro da Odebrecht o segmento de construção, origem do grupo, ainda ocupa posição secundária. A área de Petroquímica faturou R$ 16 bilhões em 2006, mais de 100% que a construtora. Essa diferença pode se estreitar no ano que vem, caso a Odebrecht conquiste, como espera, a licitação para construir a maior ampliação da história do Canal do Panamá. A construtora brasileira lidera um consórcio formado por outras três empresas. O valor do contrato é um dos maiores do mundo hoje: US$ 5,2 bilhões, sendo que 35% desse valor ficaria com a companhia, caso, é claro, consiga vencer a licitação, na qual devem participar os maiores grupos de engenharia do mundo.