Título: Turbulência pode adiar um novo "upgrade" para o Brasil
Autor: Salgado, Raquel  e Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 17/08/2007, Finanças, p. C4
O terremoto que há dias abala os mercados financeiros no mundo inteiro ainda não afetou os fundamentos da economia brasileira, mas a enorme incerteza que ele gerou pode forçar o governo e as empresas nacionais a esperar mais um pouco para ver seus papéis reavaliados novamente pelas agências internacionais de classificação de risco.
A Standard & Poor ? s e a Fitch aumentaram a nota dos títulos do governo brasileiro há pouco tempo, em maio. Classificados como "BB+", os papéis estão agora a um degrau da almejada categoria de grau de investimento, que premia títulos considerados mais confiáveis. Na escala adotada pela Moody ? s, o Brasil é "Ba2" e ainda faltam dois degraus para atingir o grau de investimento.
Analistas da Moody ? s estiveram em Brasília há três semanas para conversar com funcionários do governo. A visita foi interpretada no mercado financeiro como um sinal de que a agência estaria prestes a aumentar a nota do país. Mas é possível que a turbulência dos últimos dias faça as agências esperar para ter um pouco mais de clareza sobre o impacto da crise financeira.
"A situação teria que se deteriorar muito para afetar os indicadores de solvência do país a ponto de prejudicar sua avaliação pelas agências", disse o economista Marcelo Carvalho, do banco de investimentos Morgan Stanley. "Se isso não acontecer, alcançar o grau de investimento é só uma questão de tempo."
Em nota divulgada ontem, a Standard & Poor ? s afirmou não esperar que a crise financeira crie problemas na América Latina. De acordo com a agência, os governos da região "conseguiram se isolar" das dificuldades até agora e a exposição de empresas e bancos latino-americanos aos problemas gerados pela farra das hipotecas nos Estados Unidos "parece ser desprezível".
"A situação atual é muito específica e não tem nenhuma relação com os fundamentos macroeconômicos dos países emergentes", afirmou Helena Hessel, uma analista da agência. "Até agora não aconteceu nada que modifique a maneira como avaliamos a economia brasileira."
Em nota divulgada ontem, Alfredo Coutino, um economista da consultoria Moody ? s Economy.com, uma subsidiária da agência de classificação de risco, lembrou que países como o Brasil dependem menos de capital externo para suas necessidades de financiamento atualmente e por isso têm condições melhores de resistir à crise nos mercados.
Nas últimas vezes em que reviram a classificação dos papéis do governo brasileiro, as agências justificaram a decisão apontando principalmente as melhorias verificadas nas contas externas do país, como o aumento das exportações, a redução do endividamento externo e o grande acúmulo de reservas, hoje suficientes para pagar a dívida externa do governo duas vezes.
Fragilidades na área fiscal ainda preocupam as agências. Como a Fitch observou em maio, a dívida do governo ainda é muito elevada e de prazo muito curto, apesar das melhorias alcançadas nos últimos anos.
A dívida bruta do setor público brasileiro é equivalente a 67% do Produto Interno Bruto (PIB) hoje. Em média, os países classificados pela Fitch no degrau imediatamente superior ao do Brasil têm dívidas equivalentes a 34% do PIB.