Título: Lula e o convescote dos empresários
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2005, Política, p. A6

O Fórum Econômico Mundial ou Fórum de Davos é um convescote criado para facilitar encontros entre empresários não tão-famosos com empresários realmente famosos e importantes. Como é um evento caríssimo - o ingresso custa US$ 37 mil (R$ 100 mil) -, e os participantes circulam no mesmo espaço físico, empreendedores furões o aproveitam para fazer contatos tête-à-tête com figurões, coisa que não conseguem ao longo do ano. Para quem quer vender um produto, a oportunidade pode ser interessante. A organização do Fórum convida chefes de Estado, monarcas, ex-presidentes, economistas, Prêmios Nobel, artistas, líderes religiosos, para participar do rapapé. Esses são os animadores de salão. Desde que deixou a Presidência dos Estados Unidos, Bill Clinton tornou-se figurinha fácil em Davos. Quem é que não quer conhecer e, se possível, até bater um papo com o mítico Bill Clinton? Paulo Coelho, o escritor brasileiro mais lido no exterior, é um dos freqüentadores mais assíduos da festa em Davos. Não se decide nada em Davos. Alguns magnatas, como Bill Gates, aproveitam a presença de chefes de Estado na estação de esqui suíça para fazer lobby de seus produtos. Em janeiro de 2003, quando Luiz Inácio Lula da Silva mal tinha se sentado na cadeira de presidente do Brasil, Gates esteve com ele em Davos falando das "vantagens" do sistema operacional Windows. Não foi à toa. O magnata sabia do projeto petista para informatizar toda a rede de ensino público do país. Um negócio bilionário. Foi justamente por saber que Lula está indo mais uma vez a Davos que Gates lhe pediu nova audiência. Ele está preocupado com o avanço, patrocinado pelo governo Lula, do software livre no Brasil. Desconfiado, Fernando Henrique Cardoso, em seus oito anos de Presidência, não botou os pés na "montanha mágica", como o escritor Thomas Mann se referia aos montes íngremes de Davos. Não faltaram convites. "Nunca dei importância a Davos", diz o ex-presidente. Lula, por sua vez, pretende aproveitar a platéia de empresários e milionários, dessa vez, para buscar investimentos. Para tanto, fará do ministro da Casa Civil, José Dirceu, porta-voz dos interesses brasileiros no evento. "Não é de lá que sai dinheiro para infra-estrutura", avisa Fernando Henrique.