Título: Para João Paulo, disputa pela Câmara deixa propostas de lado
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2005, Política, p. A6

O embate interno no PT pela sucessão na presidência da Câmara - com a disputa entre Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) e Virgílio Guimarães (MG) - deixa em segundo plano a discussão de propostas dos candidatos para a instituição e, sobretudo, a conduta que pretendem ter em relação ao Executivo. Até o presidente da Casa, João Paulo Cunha, que ontem assumiu a coordenação de campanha de Greenhalgh, admitiu que as propostas ainda não são tratadas como prioridade. "O que eu acho que é preciso, de fato, é destacar aquilo que cada candidato acha mais importante para o Parlamento, para o Legislativo e para o país", afirmou João Paulo. O deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), que já registrou oficialmente sua candidatura, lançou ontem um desafio aos adversários: quer um debate público sobre propostas. É possível que a TV Câmara organize o debate com os cinco candidatos - Severino Cavalcanti (PP-PE) e Jair Bolsonaro (PFL-RJ) também disputam -, mas o evento não foi confirmado. "Estamos vendo uma sucessão com cinco candidatos em que não se discute como valorizar a instituição, que é extremamente mal avaliada pela população segundo pesquisas. Só vejo discussão sobre salário de deputado e benefícios para deputados", disse Aleluia. Mesmo que os candidatos apresentem plataformas, não é segredo no Parlamento que o determinante na escolha do voto são os acordos políticos, que passam por indicações na Mesa, privilégios e até mesmo questões administrativas paroquiais, como a possibilidade de manter no gabinete vários assessores com cargos comissionados. Aleluia tornou-se peça importante na sucessão diante do embolado cenário no PT, mas nega-se a discutir um apoio a Greenhalgh ou a Virgílio caso a disputa seja levada ao segundo turno. "Acho que vou para o segundo turno mantidas as atuais circunstâncias. Quem do PT está seguro de que não haverá segundo turno faz tal avaliação com base em números falsos levados ao governo", garantiu. Questionado sobre quais propostas tem para a Câmara, Aleluia enumerou algumas: "A reforma tributária vai ser votada". A agenda da Câmara, completou, tem que ser articulada com o Senado, o Executivo e o Judiciário. "Não pode ser exclusiva do Palácio do Planalto", criticou. Nenhum projeto pode ser levado a plenário caso o relatório não tenha sido distribuído aos parlamentares 24 horas antes, seja medida provisória ou não. Aleluia acha ainda que a Câmara foi totalmente submissa ao Executivo nos últimos dois anos. "O Senado, que era para ser uma Casa revisora, passou a ser formuladora. Se o Senado não tivesse agido, teríamos, por exemplo, aprovado um projeto desastroso de parceria público-privada", opinou. Em reunião ontem, a cúpula petista chegou à conclusão que não basta Greenhalgh viajar pelos Estados para vencer a eleição. É preciso articular mais a campanha política em Brasília. João Paulo e outros deputados vão reiniciar um contato pessoal com os parlamentares. Greenhalgh vai apresentar em breve uma plataforma. Ele defenderá a continuidade do projeto de transparência das ações da Casa, iniciado na gestão de João Paulo. Insistirá na necessidade de redução de Medidas Provisórias e vai sugerir que na ordem do dia sempre sejam incluídos projetos de autoria dos parlamentares, e não apenas do Executivo. Já Virgílio prometeu economizar gastos. O mineiro anunciou que, se eleito, vai liderar um debate para a mudança da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), para garantir que as emendas parlamentares sejam executadas. O governo certamente não vai aprovar.