Título: Ministro esvazia tese da prorrogação de mandatos
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2005, Política, p. A6

O projeto de se incluir na reforma política a coincidência de todos os mandatos já em 2008 é uma hipótese praticamente sepultada no Congresso. A tese, que implicaria no cancelamento das eleições do próximo ano com a prorrogação das administrações do presidente e dos governadores por mais dois anos, não tem consenso para avançar agora. Mas não está descartada se a aprovação for desvinculada da próxima sucessão. Nos próximos dias, o ministro da Coordenação Política do governo, Aldo Rebelo, deverá se reunir com os líderes partidários na Câmara e no Senado para sentir se há interesse na proposta de se fazer a coincidência de mandatos, mas após as eleições de 2006. As consultas serão feitas sem que o governo se comprometa com o tema. "Na reforma política o governo não será formulador", disse. Em dezembro, Rebelo manifestou simpatia à idéia de se acabar com a reeleição em troca da prorrogação dos mandatos, ao comentar uma proposta feita inicialmente pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). A idéia ganhou o apoio do ministro da Comunicação Social, Luiz Gushiken. Nenhum deles especificou se a mudança valeria para Lula. Segundo o ministro, o assunto ganhou importância indevida. "Apresentei uma posição em relação a uma tese, mas isto não significa colocar o tema como prioridade. Não é prioridade e não será", disse. O ministro admitiu contudo, que o assunto é discutido de forma lateral pela base do governo. Embora também beneficiados com a prorrogação do mandato, aliados do governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), possível adversário do PT nas próximas eleições presidenciais, bombardearam a proposta. "Isso é uma das grandes loucuras que se falou no Brasil nos últimos anos", afirmou o vice-governador de São Paulo, o pefelista Claudio Lembo. Alinhado com a oposição e com cinco dos seis governadores do partido, o presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), afirmou que a proposta poderia ser até questionada no Supremo Tribunal Federal (STF). "Quando a Constituição coloca que todo poder emana do povo, esta frase tem consequências. Prorrogar mandatos é dar a governantes um poder que não emana do povo. Mesmo com a realização de um referendo, seria juridicamente complicado. Muito mais do que foi para o ex-presidente Fernando Henrique aprovar a reeleição", disse.