Título: Camargo Corrêa Cimentos abre seu capital de olho em expansão
Autor: Vanessa Adachi
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2005, Empresas &, p. B1

A Camargo Corrêa Cimentos abriu seu capital e finaliza depois de amanhã a primeira emissão de um título mobiliário no mercado doméstico: debêntures no valor de R$ 300 milhões. Por trás da operação, estão planos de crescimento agressivos que a companhia vem traçando. Segundo fontes próximas à empresa, os controladores gostariam de transformá-la na terceira maior produtora de cimento do país. Há ainda o interesse declarado pelo mercado argentino. Hoje ela produz 2,8 milhões de toneladas por ano, tem 8% do mercado doméstico, e é a quinta colocada. Está atrás dos grupos nacionais Votorantim e João Santos, do português Cimpor e do suíço Holcim. Nesse contexto, a emissão das debêntures tem servido como um "début", em que a companhia aproveita a série de apresentações ao mercado para se mostrar aos investidores pela primeira vez. Os mesmos fundos de investimento e de pensão são o alvo para vôos mais ambiciosos, quando chegar a hora de vender ações no mercado para se financiar. "No longo prazo, a empresa tem que estar inserida no mercado de ações", diz um banqueiro de investimentos. Em respeito ao período de silêncio imposto pelas regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Camargo não quis comentar seus planos. Mas as quase 250 páginas do prospecto da emissão de debêntures fornecem boas pistas. A companhia informa ali que utilizará a totalidade dos R$ 300 milhões captados com as debêntures para financiar seu crescimento via aquisições ou associações no Brasil e na América Latina. O objetivo principal dessa operação parece ter sido financiar a aquisição da fabricante de cimento argentina Loma Negra. O grupo brasileiro tem grande interesse e vinha negociando a compra praticamente em regime de exclusividade. Os cerca de US$ 100 milhões obtidos com as debêntures cobririam cerca de um décimo - ou até menos - do valor a ser pago pela Loma, caso o negócio viesse a ser fechado. Mas há sinais de que as negociações já estiveram mais quentes e hoje não se sabe se prosperarão. No mercado doméstico, onde a capacidade ociosa do setor é grande, para cumprir os planos de avançar para a terceira posição, a Camargo teria que adquirir ou se associar a uma das cimenteiras que ainda não se integraram aos grupos líderes. As opções óbvias seriam a Soeicom, que ocupa a oitava posição, e a Cimento Planalto, que está em décimo, ambas de capital nacional. Comenta-se no setor que a Soeicom, que produz 970 milhões de toneladas, poderia ser colocada à venda. Com ela, a Camargo chegaria à terceira posição. A Camargo também informa em seu prospecto que os recursos das debêntures podem ser usados para pagar uma dívida de um eurobônus, emitido em 1997, de US$ 150 milhões, que vence em julho deste ano. Segundo uma fonte qualificada, entretanto, o mais provável é que a companhia role os eurobônus. Cerca de 80% dos investidores que detêm o papel já teriam concordado. A emissão de debêntures, liderada pelo banco Pactual, fecha na quinta-feira e a expectativa é de excesso de demanda pelos papéis. A companhia tem rating "brAA" pela Standard & Poor's e, por ser sua estréia, o limite de crédito da empresa junto aos investidores está totalmente livre.