Título: Mudanças e avanços do Fórum Social
Autor: Oded Grajew
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2005, Empresas &, p. B2

Outro Fórum Social Mundial (FSM) começa amanhã, sua quinta versão, de volta a Porto Alegre. Sabem como tudo começou? No início de 2000, estava em Paris com minha mulher, Mara. Era a mesma época do Fórum de Davos e fiquei impressionado com o destaque e a "visão de mundo" dos meios de comunicação sobre o evento. Para a mídia de então, o planeta não passava de um grande mercado e a globalização servia apenas para ampliar a livre circulação de produtos, serviços e finanças. Os protestos - já bem grandes então - eram atribuídos às mazelas sociais persistentes entre aqueles que ainda "ousavam" impor restrições ao mercado global. Foi aí que tive a idéia de começar a articular a criação de um fórum social que fosse realizado na mesma época daquele de Davos, com o intuito de mostrar que podemos e devemos escolher o mundo e a globalização que queremos; ter um espaço para protestar e expor as alternativas e prioridades deste outro mundo possível; oferecer uma possibilidade de encontro entre pessoas e entidades com visões de mundo parecidas, para se articular e promover ações concretas, de modo que a economia esteja a serviço das pessoas (e não o contrário). Em 2001, tivemos 20 mil participantes, 5 mil delegados de 2 mil organizações de 112 países, com mais de 400 eventos entre palestras, seminários, testemunhais, etc. Estes números foram crescendo exponencialmente a cada novo Fórum e, em 2004, com sua a realização em Mumbai, na Índia, houve a internacionalização do processo. Com isso, foi possível integrar os setores mais empobrecidos da população e abrir espaço para outras formas de expressão. A quinta edição, de volta à capital gaúcha, assimilou os avanços obtidos em Mumbai e começou a mudança na própria maneira de preparação do Fórum. Em abril-maio de 2004, foi feita uma consulta mundial para saber quais temas discutir em 2005. As respostas apontaram 11 grandes áreas de interesse que foram distribuídas por todo o Território Social Mundial - o espaço geográfico na orla do rio Guaíba reservado especialmente para receber os esperados 120 mil participantes e mais de 2 mil eventos, com a instalação de conjuntos arquitetônicos construídos com o objetivo de facilitar os contatos humanos e preservar o meio ambiente.

As empresas têm papel importante no futuro

O Fórum Social Mundial é um evento próprio da sociedade civil, independente de partidos e governos, que será mais uma vez recebido de braços abertos pela população e pelas autoridades do Rio Grande do Sul e de Porto Alegre, em particular. Não deixa de ser uma volta às origens que nos coloca - a todos que queremos uma outra globalização - diante de um novo e premente desafio: apontar caminhos, traçar estratégias e principalmente ser um instrumento para ações que nos levem a este novo mundo possível. Podemos contabilizar muitos sucessos, nestes cinco anos, entre eles, o de ter contribuído - graças à mobilização de milhões de pessoas em todo o mundo - para que o Fórum Econômico Mundial também incluísse em suas discussões temas como o combate à pobreza e à fome. Afinal, os senhores de Davos registraram em seus corações e mentes um dado muito interessante: entre os vinte países listados pela ONU como possuidores dos melhores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) e aqueles que, de acordo as pesquisas do Fórum Econômico, apresentam os melhores indicadores de competitividade, quinze são os mesmos. Prova mais do que evidente de que sem desenvolvimento humano não há competitividade. E desenvolvimento humano depende de políticas públicas voltadas para as prioridades das nações que, numa democracia participativa, podem e devem ser apontadas pela sociedade civil (empresas aí incluídas) para que os governos, apoiados por seus cidadãos, coloquem-nas em prática. Por seu imenso poder econômico, tecnológico, cultural e político, as empresas têm uma grande responsabilidade futuro do planeta e do nosso País. Aliás, no que diz respeito ao Brasil, uma boa maneira de os brasileiros definirem tais prioridades é prestar mais atenção ao "Relatório Nacional de Acompanhamento das Metas do Milênio", recentemente divulgado. Por isso, quero convidar a todos que estarão em Porto Alegre a participar dos vários seminários organizados ou que contam com a participação do Instituto Ethos. Neles, serão discutidas e apresentadas propostas a respeito de quais Metas brasileiras do Milênio a sociedade e os governos querem atingir até 2015. Será uma excelente oportunidade para unirmos forças e direcioná-las para a construção de um Brasil mais justo, democrático, pacífico e igualitário.