Título: Aço poderá ficar até 15% mais caro, dizem montadoras
Autor: Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2005, Empresas &, p. B5

A indústria automobilística já começou a fazer as contas de quanto o preço do aço pode ser reajustado por conta do pedido da Companhia Vale do Rio Doce de aumento de 90% nos preços do minério de ferro, principal matéria-prima da siderurgia. Os fabricantes de veículos calculam que terão de pagar mais 10% a 15% no aço apenas por conta do aumento do minério. Os dirigentes das montadoras não falam publicamente sobre esse assunto, que pode ampliar o já histórico embate entre montadoras e siderúrgicas. Mas já avisam que o custo será repassado aos preços dos veículos. Segundo uma fonte do setor, não há como absorver mais um aumento depois de um ano em que o aço acumulou mais de 45% de reajustes, em média, no país. Na semana passada, o presidente da Vale, Roger Agnelli, disse que o impacto da alta do minério sobre a inflação seria nulo. A fonte relatou que os executivos da área de compras das montadoras têm passado os últimos dias "sem dormir" diante da expectativa dos efeitos de um aumento de preços do minério de ferro cuja proporção era totalmente inesperada pelo setor e também pelas siderúrgicas. O aumento de 90% seria o maior da história do produto. No ano passado, o preço do insumo, que é reajustado uma vez ao ano, subiu 18%. Depois que as negociações da Vale do Rio Doce com as siderúrgicas terminarem, a expectativa dos fabricantes de veículos é de um aumento de preços retroativo ao início do ano. Esta semana, prosseguem os entendimentos entre as usinas de aço e mineradoras. A indústria automobilística não tem esperanças de que as negociações resultem num índice muito menor do que o solicitado pela Vale, uma vez que a mineradora está entre os três únicos fornecedores do insumo no mundo. Os outros dois são BHP Billiton e Rio Tinto - as três juntas dominam 70% do comércio mundial. Por outro lado, o impacto do reajuste no preço do minério deverá ser amenizado pelo atual cenário do câmbio. Não fosse a valorização do real, o repasse do aumento do insumo pelas aciarias poderia ser até maior, conforme avaliam os fabricantes de veículos. Mas a questão cambial é hoje um fator desfavorável a qualquer repasse de aumento de custos na exportação, que representa hoje o maior impulso à produção de veículos no país. Foram as exportações que puxaram o aumento de produção de veículos no Brasil em 2004, ano em que o setor bateu recorde de 2,2 milhões de unidades. O ritmo continua acelerado na indústria, o segundo maior consumidor de aço do país, que prevê chegar à marca de 2,3 milhões de veículos nesse ano. No ano passado, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea ) pediu ao governo federal a desoneração das importações de aço como forma de escapar das pressões internas. Além disso, a entidade comandou um movimento formado por outras indústrias grandes consumidoras de aço, como fabricantes de eletrodomésticos, pedindo a intervenção das autoridades para conter a escalada de preços da matéria-prima.