Título: Estiagem reduz colheita de cana-de-açúcar do Nordeste
Autor: Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2005, Agronegócios, p. B8

O clima seco limitará o crescimento da safra de cana-de-açúcar da região Nordeste do país. Estimada inicialmente em 63 milhões de toneladas, 5% mais que no ciclo 2003/04, a colheita deverá repetir os mesmos números da safra passada, de 60 milhões de toneladas, ou registrar no máximo um ligeiro aumento, para 60,5 milhões de toneladas, segundo os sindicatos das Indústrias de Açúcar e Álcool dos Estados de Alagoas e Pernambuco. A falta de chuvas está impedindo o desenvolvimento da cana. Levantamento do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) mostra que as chuvas no mês de janeiro ficaram abaixo do normal, e as perspectivas são de precipitações baixas para os meses de fevereiro e março. "As chuvas entre fevereiro e maio são provocadas sobretudo pelo aquecimento do oceano Atlântico, o que não está ocorrendo no momento", afirmou Francisco de Assis Diniz, chefe do Centro de Análise e Previsão do Tempo. A colheita na região termina em março. "As chuvas entre dezembro e fevereiro são importantes para o desenvolvimento da cana. As chuvas de fevereiro só vão beneficiar a cana da próxima safra", observou Renato Cunha, presidente do Sindaçúcar/PE. Em Alagoas, maior Estado produtor do Nordeste, a colheita está estimada entre 26 milhões e 26,5 milhões de toneladas, ante 28 milhões da safra 2003/04. "A expectativa inicial era de que a safra repetisse os números da safra anterior", disse Pedro Robério Nogueira de Mello, presidente do Sindaçúcar/AL. Conforme Cunha, a quebra poderia ter sido ainda maior em Pernambuco, não fossem os investimentos em gestão hídrica. Segundo Cunha, os investimentos na região - que variam de 10% a 15% do total do faturamento do setor, de R$ 3 bilhões - deverão continuar, mas em um ritmo menos acelerado. "Os investimentos em barragens e drenagem de várzea vão continuar. As usinas também vão manter os investimentos em álcool", afirmou ele. Os investimentos em irrigação no Nordeste começaram a partir da safra 1995/96, exatamente depois de uma forte seca. Apesar da estiagem, o rendimento da cana permitirá que a produção de açúcar e álcool se mantenha nos mesmos níveis de 2003/04, por conta da maior concentração do açúcar na matéria-prima. Em Alagoas, a oferta de açúcar será de 2,4 milhões de toneladas, das quais 1,8 milhão de toneladas para exportação, e 700 milhões de litros de álcool, repetindo o mesmo desempenho de 2004. Em Pernambuco, a produção de açúcar será de 1,5 milhão de toneladas, alta de 5% sobre 2003/04, e a de álcool, em 400 milhões de litros, 5% acima da safra anterior.