Título: O reinado dos CDBs
Autor: Angelo Pavini
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2005, EU &, p. D1

Depois do forte crescimento em 2004, os Certificados de Depósito Bancário (CDBs) prometem manter a soberania também neste ano. O crescimento da economia, que aumenta a demanda por crédito das empresas e a necessidade dos bancos de captar para emprestar, deve manter o apetite das instituições e dar taxas atrativas para os clientes. Esse movimento garantiu o crescimento dessas aplicações em R$ 44 bilhões no ano passado. Os CDBs são título emitidos pelos bancos por determinado prazo, que pagam juros pré ou pós-fixados, equivalentes a uma porcentagem do CDI que varia de acordo com a necessidade do banco de captar para emprestar ou aplicar em títulos do governo. Eles têm a garantia do Fundo Garantidor de Crédito, que cobre aplicações até R$ 20 mil em caso de quebra do banco. Os CDBs desbancaram as tradicionais cadernetas em patrimônio pela primeira vez desde 1997, com R$ 171 bilhões, para R$ 158 bilhões da poupança. Mas estão ainda longe dos fundos, que fecharam o ano com R$ 590 bilhões. A explicação para o crescimento desse tipo de produto está também na conta-investimento, que isentou de CPMF as reaplicações dos recursos desde outubro. Além disso, nova tributação complicou o dia-a-dia do investidor e aumentou o risco dos fundos. A legislação obriga as carteiras a ter papéis com prazo médio acima de um ano para que o investidor consiga alíquotas de imposto mais baixas, de 17,5% entre um ano e dois anos, e de 15% acima de dois anos. Com papéis mais longos, a chance de flutuação das cotas aumenta. E como essa flutuação, apesar de existir, não aparece nos CDBs - que não são marcados a mercado - isso acaba favorecendo esses papéis. O crescimento na demanda ocorreu também em parte pela procura dos fundos de investimento, que buscaram nesses papéis taxas mais atrativas que as pagas pelos títulos públicos federais. No ano, a fatia dos papéis de bancos subiu de 6,74% das carteiras em janeiro para 8,44% em dezembro. Marcia Dessen, consultora de investimentos, acha que os CDBs podem ser uma alternativa pois não estão sujeitos à tributação semestral que incide sobre os fundos, de 15% para os de longo prazo e 20% para os de curto. E, num fundo, o aplicador vai ter a volatilidade na quota pela marcação a mercado, "que é uma coisa natural, reflexo da oscilação de preços do mercado, mas que pode assustar quem não entende muito", diz. O que o investidor deve ter consciência, diz Marcia, é que ao trocar um fundo por um CDB de dois anos, com correção pelo CDI, troca o risco de oscilação das cotas pelo risco de crédito, ou seja, de o banco quebrar. E, se for prefixado, terá ainda o risco de uma alta das taxas de juros. Outro problema do CDB é que o investidor não tem uma idéia clara se está obtendo uma taxa boa. Em geral, os bancos não informam quanto pagam do CDI para valores menores. Já num fundo, o investidor sabe do custo, representado pela taxa de administração. "Os fundos têm maior transparência pois são marcados a mercado e o investidor sabe quanto está pagando", diz. Para o pequeno investidor, em geral, os bancos pagam menos, em torno de 80% do CDI. Marcia estima que um fundo de renda fixa ou DI que cobre 4% de taxa de administração equivaleria a uma taxa de 78% do CDI atual. Já uma taxa de administração de 2%, equivaleria a 90% do CDI. Ela lembra também que a taxa do CDB vai depender da instituição. Grandes bancos, de baixo risco, vão exigir valores muito maiores para pagar porcentagens maiores do CDI. Já bancos menores pagam mais, mas há o risco da instituição, diz a consultora. Ela lembra que um CDB é uma promissória do banco, portanto, o investidor deve avaliar bem o risco.