Título: Petróleo eleva tensão entre Chávez e EUA
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 26/01/2005, Brasil, p. A2
A tensão na relação entre Estados Unidos e o governo de Hugo Chávez na Venezuela está visivelmente crescendo nas últimas semanas. E os problemas vão muito além do incidente diplomático entre a Venezuela e a Colômbia provocado pelo seqüestro de um guerrilheiro da Farc em território venezuelano. O que incomoda os EUA e algumas de suas grandes empresas são as mudanças na indústria petrolífera promovidas por Chávez. A sabatina de confirmação da nova secretária de Estado, Condoleeza Rice, trouxe o assunto à tona. O republicano Richard Lugar insistiu em perguntas sobre a possibilidade de a Venezuela deixar de suprir os Estados Unidos de petróleo. Rice classificou o governo de Chávez como "eleito democraticamente mas que governa de maneira não democrática" e disse que pressionará a Organização dos Estados Americanos (OEA) para fazer cobranças a Chávez. Respondendo a perguntas sobre uma hipotética redução de exportações para os Estados Unidos, Rice disse esperar que Chávez mantenha a relação comercial "mutuamente benéfica". As exportações da Venezuela representam 15% do total importado pelos EUA, ou 1,2 milhão de barris diários. É uma relação de dependência mútua, já que o tipo de petróleo venezuelano é de difícil refino e exige adaptações industriais que só estão presentes em plantas no país e nos Estados Unidos - uma delas de propriedade da estatal PDVSA. Mais de metade da exportação de petróleo venezuelana vai para os EUA. Hugo Chávez quer diversificar o mix de exportações e vender mais petróleo para a China, Rússia e Irã. Está negociando com o Panamá a construção de um duto para facilitar o envio do produto à Ásia.
Problemas vão além de incidentes diplomáticos
Numa segunda rodada de medidas para a indústria petrolífera, Chávez está revendo contratos de exploração fechados com companhias estrangeiras na década de 90 e procurando aumentar o papel da estatal PDVSA na exploração. As ações das empresas americanas que atuam no país vêm registrando queda desde o fim do ano passado. Depois de inicialmente apoiar o governo provisório golpista que derrubou Chávez em 2002, o governo Bush recuou e aceitou a negociação mediada pelo Brasil, que resultou no plebiscito confirmando o presidente no cargo no ano passado. A ONG do ex-presidente Jimmy Carter confirmou a validade do plebiscito. É difícil imaginar, em meio ao atoleiro da ocupação no Iraque e da crescente pressão entre os neo-conservadores dentro do governo para agir contra o Irã, que os Estados Unidos envolvam-se novamente com os grupos de oposição que tentaram derrubar Chávez. Além disso, a única época em que o suprimento de petróleo para os EUA foi interrompido foi durante a greve geral incitada pela oposição. Chávez já ameaçou interromper exportações se os EUA interferirem em seu governo, mas nunca realizou as ameaças porque precisa dos recursos das exportações para financiar os programas sociais que mantêm sua popularidade no país. Recentemente, acusou os Estados Unidos de estarem por trás do seqüestro de um guerrilheiro da Farc em Caracas, com financiamento pelo governo colombiano. Mas o que não está claro é que tipo de pressão os Estados Unidos vão tentar fazer sobre a Venezuela na OEA. Parlamentares americanos já mencionaram negociações e pressões sobre o governo do Panamá para impedir a construção do duto desejado por Chávez, o que encareceria o custo das exportações do petróleo venezuelano para a China. Não há muito mais a fazer além disso. Os EUA já procuram isolar ao máximo a Venezuela nos fóruns internacionais, sem causar grande prejuízo ao país. Também é difícil afirmar que a Venezuela tenha infringido regulamentações sobre investimentos estrangeiros. O que o governo tem feito é apenas revisar contratos de exploração, mas não houve nada parecido com nacionalização ou expropriação de atividades das companhias americanas que operam no país. As empresas privadas que conseguiram a autorização para operar na década de 90 continuam extraindo e exportando petróleo normalmente. A Organização dos Estados Americanos (OEA) até agora não se envolveu na crise entre a Venezuela e a Colômbia, mediada informalmente pelo Brasil. Depois de um escândalo ter derrubado seu último secretário-geral, o ex-presidente da Costa Rica Miguel Ángel Rodriguez, o cargo está sendo ocupado interinamente até a eleição do próximo secretário, na qual concorrem candidatos do México, Chile e El Salvador.