Título: Desemprego e renda têm queda em 2004
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 26/01/2005, Brasil, p. A4

Os desempenhos dos indicadores de mercado de trabalho, em 2004, foram fracos para um ano de crescimento de 5% do Produto Interno Bruto (PIB). Em dezembro, a taxa de desemprego cedeu ante novembro por fatores sazonais, fechando em 9,6%, mas o resultado anual ficou em 11,5% da população economicamente ativa (PEA). Mesmo sendo inferior aos 12,3% de 2003, esse patamar ainda é alto, reconhece Cimar Pereira, responsável pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, pois corresponde a um contingente de 2,1 milhões de desempregados nas seis regiões metropolitanas pesquisadas. O desempenho do rendimento médio do trabalho deixou ainda mais a desejar, apresentando queda de 1,8% ante novembro, ou R$ 895,40 na média de Rio, São Paulo, Porto Alegre, Recife, Salvador e Belo Horizonte. Ante dezembro de 2003, a renda subiu 1,9% mas, no ano, declinou 0,8%, atingindo na média um valor de R$ 907,80 ante R$ 914,80 em 2003 e R$ 1.048,85 em 2002. Pereira atribuiu o fato a contratações temporárias, que puxaram os rendimentos para baixo por conta dos salários menores.

Alex Agostini, economista da GRC Visão Consultoria, avalia, porém, que, no geral, o saldo do mercado de trabalho em 2004 foi positivo. "O ano se encerrou com um crescimento de 3% na população empregada e uma expansão de 2,1% na PEA, mas reconheço que poderia ter ficado um pouco melhor". Na sua análise, essa frustração ocorreu porque no primeiro semestre a economia apoiou-se na recuperação do nível de utilização da capacidade instalada, que leva em conta mais os ganhos de produtividade e não as contratações de pessoal. "A partir de maio é que o emprego começou a recuperar-se, escorado principalmente em contratações com carteira, emprego formal". No caso da renda, o economista da GRC Visão considera que, apesar de nova queda, este indicador já demonstrou uma situação bem melhor que em 2003. "A renda já inflexionou a curva e a tendência agora é subir". A sua consultoria trabalha com uma expectativa de crescimento da renda de 5% em 2005 por conta de uma melhor qualidade do emprego, superior aos 3% projetados pela consultoria para o PIB. A taxa de desemprego projetada pela GRC para os próximos doze meses, no entanto, deve permanecer na casa de 11%. Para Agostini, a redução do desemprego deverá ser mais lenta, porque, com a melhora da economia, haverá uma pressão de pessoas que estavam fora do mercado de trabalho e que agora tendem a voltar. "Esse cenário pode levar a um aumento da PEA e a uma forte pressão sobre a taxa de desemprego", afirma o economista da GRC. Cimar Pereira, responsável pela PME, trabalha com um cenário de tendência de melhora no mercado de trabalho em 2005, impulsionado pelo crescimento do emprego formal com base no crescimento esperado dos investimentos. Segundo Pereira, os dados de dezembro já demonstraram um crescimento do emprego formal com carteira, de 4,2% ante dezembro de 2003. Essa alta representam mais 311 mil contratações, informando que em dezembro houve mais criação de novos empregos do que procura por emprego. No período, a indústria aumentou a mão-de-obra em 4,5% e o grupo de serviços prestados a empresas, em 7,3%.