Título: Mercado interno tende a puxar contratações este ano
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 26/01/2005, Brasil, p. A4

A recuperação do nível de emprego em 2004 esteve atrelada ao bom desempenho das exportações e ao agronegócio. Prova disso é o crescimento de 9,7%, de janeiro a novembro, no número de trabalhadores do chamado "interior dinâmico", que, segundo estudo da LCA Consultores, engloba cidades do interior dos Estados do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e região Centro-Oeste, com exceção do Distrito Federal. Para 2005, no entanto, as exportações tendem a perder fôlego e o mercado doméstico deve ganhar peso nas contratações. No interior, o aumento no emprego foi superior ao resultado geral do país, uma alta de 7,7% entre janeiro e novembro e que deve fechar o ano em 6,6%, segundo estimativas da LCA. O estudo tem bases nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O desempenho no interior também supera o das regiões metropolitanas, que mostraram incremento de 5,6% na criação de vagas até novembro. Foto: Roberto Setton/Valor

Denis Ribeiro: recuperação mais robusta da demanda interna deve estimular o setor de alimentos

Além da contribuição do agronegócio, o emprego nessas regiões é favorecido pela descentralização da produção e incentivado por custos mais baixos com mão-de-obra e vantagens fiscais oferecidas pelas cidades menores. Alex Agostini, da GRC Visão, lembra que mão-de-obra, impostos e custos de instalação e logística são menores no interior.

Na opinião de Fábio Romão, economista da LCA, a perda de dinamismo das exportações e a participação maior dos setores ligados ao mercado doméstico e aos rendimentos acarretará uma importante mudança no perfil do emprego. Ramos industriais mais atrelados à renda do que ao crédito - como alimentos, vestuário, calçados e produtos farmacêuticos - devem ter aumento de produção e, conseqüentemente, abertura de novas vagas de trabalho. Para Agostini, setores como a metalurgia, material de transporte, material elétrico e de comunicações já dão sinais de menor fôlego. Além de uma parte da demanda estar suprida, "o movimento de alta dos juros vai encarecer o custo do crédito e limitar o incremento das vendas nesses ramos", alerta. Um setor de destaque em 2005 será o de alimentos e bebidas. A Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia) espera criar mais de 34 mil novos postos de trabalho no ano, o que representaria alta de 3,5%. Segundo o diretor econômico da entidade, Denis Ribeiro, a expectativa para 2005 é de uma recuperação mais robusta da demanda interna, o que irá alavancar o setor, que tem 75% da produção voltada para esse mercado. Em 2004, no saldo total de empregos gerados, a maior variação percentual foi verificada no setor de calçados, no qual o nível de ocupação avançou 19%, de acordo com dados do Caged e estimativas para o fechamento do ano realizadas pela LCA Consultores. Essa variação representou a criação de mais de 37 mil vagas. Para o economista da GRC Visão, apesar de pertencer ao ramo de semi-duráveis, a recuperação foi sustentada pelas exportações, que sofrem menos com a concorrência externa. No caso do vestuário e têxtil, a situação é um pouco mais delicada, lembra ele, devido à forte competitividade dos produtos chineses. Nesse setor, o emprego cresceu 8,9%, o que implicou abertura de mais de 65 mil postos de trabalho. Em números absolutos, o resultado ficou acima do setor de calçados, uma vez que é um setor com quantidade bem maior de trabalhadores, pondera Romão. A construção civil viu o nível de emprego crescer 4,7% em 2004, após uma queda de 4,2% no ano anterior. Com isso, foram gerados cerca 50,7 mil postos. O comércio abriu mais de 400 mil postos, um incremento de 7,9%. No setor de serviços, destaque para aqueles relacionados a transportes e comunicação, no qual o emprego cresceu 6,5%, e ao comércio e administração de imóveis - alta de 6,6% O desempenho favorável do chamado interior dinâmico teve como âncora a indústria de transformação, especialmente os ramos ligados ao agronegócio. Mas já há crescimento nos serviços também. Pelos dados do Caged, de janeiro a novembro, o emprego nos serviços de transportes e comunicação nessas regiões, por exemplo, cresceu 10% e gerou mais de 43 mil vagas.