Título: Nível de utilização da indústria é o maior desde 1987
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 26/01/2005, Brasil, p. A4

O nível de utilização da capacidade instalada da indústria de transformação brasileira atingiu em janeiro deste ano 83,6%, o maior resultado para esta época do ano desde janeiro de 1987 (84%). Ajustado sazonalmente, o número foi de 84,6%, ficando 0,5 ponto percentual abaixo dos 85,1% alcançados em outubro do ano passado. A indústria de bens de capital foi a que mais pressionou o resultado geral, saltando de 80,8% em outubro para 83,9% em janeiro na série ajustada e de 75,1% em janeiro de 2004 para 83,4% em janeiro deste ano na série anual. Os números constam da 154.ª Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação, apurada trimestralmente pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), cujos dados definitivos foram divulgados ontem, no Rio, após uma versão reduzida ter sido apresentada há duas semanas, em São Paulo. Os dados ajustados sazonalmente revelaram que vários setores importantes na cadeia produtiva estão com utilização da capacidade muito elevada, acima da média histórica. São os casos da indústria mecânica (90,2% contra 77,8% da média histórica) e da indústria de borracha (96,2%, contra 89,2% da média). Os técnicos da FGV calcularam o desvio padrão do nível de utilização da capacidade instalada, que é uma medida de variação que apura o quanto um determinado resultado está diferente da série histórica daquela apuração, e depois mediram a distância do número de janeiro para o da média histórica em desvio padrão. Isso serve para mostrar a consistência da elevação do uso da capacidade. O resultado mostrou que a indústria mecânica, por exemplo, está 2,2 desvios acima da média, perdendo apenas para o setor de perfumaria, que está 2,3 acima. Há, no total, seis setores com mais de 1 em desvio padrão acima da média. Estar acima de 1desvio em relação à média, de acordo com os técnicos da FGV, é um forte indicativo de que o uso da capacidade está consistentemente elevado. O uso da capacidade nos bens de capital está 0,96 acima do desvio, "chegando ao nível preocupante", segundo o economista Aloisio Campelo Jr., coordenador da Sondagem. A categoria dos bens de capital foi também a que revelou maior intenção de aumentar seus preços neste início de ano. Foram 39% das respostas afirmando intenção de reajustar preços, contra apenas 2% dizendo que vão baixar. O saldo de 37 pontos percentuais dos que disseram que vão reajustar para cima é mais que o dobro dos 15 pontos registrados em janeiro de 2004. "Pode ter alguma coisa a ver com demanda. Há uma pressão, embora na indústria como um todo tenha havido uma melhora", analisou Campelo. "Pode haver algum aumento de preço (nos bens de capital) ou importação, mas não significa maiores problemas. O processo de crescimento não é todo equilibradinho", disse Samuel Pessôa, também da FGV. Na indústria de transformação em geral o saldo entre os que mostraram intenção de reajustar preços e os que disseram que vão baixar caiu de 37 pontos em janeiro de 2004 para 24 pontos na sondagem. Os dois economistas concordaram que, de um modo geral, os números da sondagem foram positivos e que algumas respostas negativas, como a das previsões para a produção neste primeiro trimestre (saldo negativo de 7 pontos percentuais, contra 5 pontos positivos no mesmo período de 2004), não chegam a alterar esse contexto geral. Pessôa disse que os investimentos que vêm sendo anunciados e as possibilidades de importações afastam riscos de inflação de demanda gerada por gargalos na capacidade instalada de bens de capital e de bens intermediários, já que a indústria de bens de consumo está com apenas 75,6% de uso da capacidade. Os estoques se recuperaram em relação a outubro. O saldo positivo de 7 pontos entre as empresas que pretendem aumentar e as que pretendem reduzir emprego foi o maior desde 1987 e o otimismo quanto aos negócios daqui a seis meses foram aspectos destacados por Pessôa como indicativos de que o país está crescendo de forma mais equilibrada e que manterá o crescimento "nos próximos trimestres".