Título: Votação fatiada pode facilitar composição na Câmara
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 26/01/2005, Política, p. A6

As regras sobre como será conduzida a eleição da presidência da Câmara serão definidas na terça-feira, em reunião dos líderes partidários com o presidente da Casa, João Paulo Cunha. Nas últimas avaliações de cenário, os governistas ainda trabalham com a perspectiva de um segundo turno num embate politicamente constrangedor entre os petistas Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) e Virgílio Guimarães (MG). Com esse quadro, há parlamentares que cogitam a possibilidade de serem realizadas duas votações no dia 14 de fevereiro: a de presidente e, em seguida, a do restante da Mesa. Esse encaminhamento é possível considerando que, em 1993, o então presidente da Casa, Ibsen Pinheiro, decidiu eleger primeiro o presidente para só depois colocar em votação a composição da Mesa Diretora. A tendência, segundo alguns interlocutores de João Paulo, é que ele preserve a tradição e faça uma única votação para a presidência e toda a Mesa. Mas, tudo dependerá das circunstâncias políticas. A avaliação de alguns parlamentares é de que os candidatos José Carlos Aleluia (PFL-BA) e Severino Cavalcanti (PP-PE) entraram na disputa para marcar posição política, mas nutrem a ambição de ocupar cargos na Mesa. Aleluia tem interesse na primeira vice-presidência, que cabe ao PFL. O pefelista também aspira ocupar a liderança da minoria, hoje exercida por José Thomaz Nonô (PFL-AL). Severino quer continuar na segunda-secretaria. Se ambos perderem a eleição no primeiro turno, vão compor com um dos petistas para integrar a Mesa. Mas isso só seria possível se a eleição for em dois atos. Em 1993, Ibsen Pinheiro (PMDB) tomou a decisão de separar a eleição de presidente do restante da Mesa por razões estritamente políticas. O deputado Inocêncio Oliveira (PFL-PE) era o preferido do plenário para sucedê-lo. Só que a indicação da presidência cabia ao PMDB, que queria lançar Odacir Klein. Numa questão de ordem, Ibsen Pinheiro disse que o regimento interno consagra a "soberania do plenário". Sendo assim, ele havia decidido convocar uma sessão para a escolha do presidente e, somente em seguida, após a proclamação do resultado, haveria votação para o resto da Mesa. Como a vitória esperada era do PFL, a distribuição dos cargos na Mesa seria alterada, pois o PMDB teria que ser beneficiado na composição em nome da proporcionalidade. Na ocasião, o então deputado José Genoino, hoje presidente do PT, defendeu a decisão de Ibsen. O petista apoiava Odacir Klein e tinha consciência de que ele perderia em plenário.