Título: Venezuela adota retaliação econômica contra Colômbia
Autor: Associated Press
Fonte: Valor Econômico, 26/01/2005, Internacional, p. A8

O embarque de milhares de toneladas de carvão da Colômbia, boa parte para os EUA, através da Venezuela, foi interrompido ontem pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, que ameaçar congelar os laços econômicos com o vizinho, sinal de tensão crescente na crise entre os dois países. "Ontem foi o último dia em que passaram caminhões com carvão", disse Oscar Escalante, chefe de operação da alfândega da cidade de San Antonio del Tachira, na fronteira entre os dois países. Ele recebeu ordens diretas do governo de Caracas para bloquear a passagem do produto colombiano. Segundo fontes do setor, a decisão poderá custar à indústria de carvão da Colômbia o equivalente da US$ 180 mil por dia, já que os caminhões serão forçados a pegar estradas mais longas para exportar a commodity para o mercado americano. Isso elevará os custos. O setor elétrico da Colômbia também está sentindo o impacto da retaliação de Chávez. Autoridades de Arauca disseram que a Venezuela está se recusando a vender eletricidade a essa província colombiana, mesmo após os prejuízos causados à rede elétrica local depois que membros das Farc explodiram um torre de transmissão, causando blecautes. Segundo Domingo Teres, presidente da Câmara de Indústria e Comércio de Urena, o comércio entre Colômbia e Venezuela vem diminuindo drasticamente. O trânsito de caminhões transportando mercadorias entre os dois países caiu 60% na fronteira de Táchira e Apure, dois dos quatro Estados venezuelanos que fazem fronteira com a Colômbia. A Venezuela é o segundo maior parceiro comercial da Colômbia, atrás apenas dos EUA. A crise entre os dois países começou com a captura de Rodrigo Granda, considerado o "chanceler" das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, guerrilha esquerdista), em dezembro passado, na Venezuela, sem o conhecimento de Caracas. O presidente Chávez diz que a captura faz parte de um novo ataque imperialista dos EUA e que a soberania do país foi violada. A Colômbia afirma que pagou uma recompensa e acusa o vizinho de dar guarida a pelo menos outros sete membros das Farc, que Bogotá e Washington - aliado da Colômbia na luta contra o narcotráfico - classificam como uma organização terrorista. Uribe se recusa a pedir desculpas, e Chávez ameaçou romper relações com a Colômbia se isso não ocorrer. Desde 14 de janeiro, quando Chávez chamou de volta seu embaixador em Bogotá, os projetos bilaterais estão suspensos. O Brasil vem tentando, por ora sem sucesso, mediar uma reaproximação entre os dois países. No sábado, o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, esteve em Caracas. Esta semana, Chávez vem ao Brasil para o Fórum Social de Porto Alegre. "A deterioração da situação entre os dois países poderá colocar em risco a estabilidade política da América do Sul", disse anteontem o presidente do PT, José Genoino. "O governo brasileiro não pode ignorar isso e tem de encontrar um caminho para solucionar esse problema."