Título: Executivos sul-americanos são os mais otimistas quanto a 2005
Autor: Assis Moreira De Davos
Fonte: Valor Econômico, 26/01/2005, Internacional, p. A9

Os executivos da América do Sul são os mais otimistas globalmente sobre as perspectivas de crescimento de suas empresas e lucros neste ano, seguidos de asiáticos, americanos e europeus - e todos pretendem voltar a investir para garantir sucessos futuros. É o que mostra uma pesquisa com 1.300 presidentes-executivos (CEOs) pelo mundo feita pela consultoria PricewaterCoopers, a ser divulgada hoje, na abertura do Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça). Nada menos de 49% dos executivos sul-americanos estão "muito confiantes" na expansão dos negócios nos próximos doze meses, acima da média mundial de 41%.

Foram ouvidos 257 executivos na América do Sul, dos quais 76 no Brasil. No ano passado, só 43% confiavam muito em mais negócios. "Os sul-americanos sempre vêem o lado mais positivo das coisas, mas isso também reflete a situação econômica no Brasil, no Chile e mesmo na Argentina", disse ao Valor o presidente-executivo da PricewaterCoopers, Samuel A. DiPiazza. Globalmente, os executivos apontam o excesso de regulamentações como a principal ameaça ao aumento dos negócios, bem mais do que flutuação de moedas, custo de energia ou terrorismo. E também nesse item os sul-americanos estão na frente: 71% deles reclamam de crescentes exigências reguladoras. Ao mesmo tempo, eles são também os mais confiantes em poder cumprir exigências de governança, riscos administrativos e conformidade (governance, risk management and compliance, ou GRC) no país e no exterior. Os sul-americanos são igualmente os que se dizem mais engajados com a prática crescente de offshoring (transferência de processos e serviços para localidades menos custosas). O título do relatório da PricewaterCoopers este ano é "Bold Ambitions, Careful Choices", refletindo o "otimismo cauteloso" nas respostas de executivos ouvidos no último trimestre do ano passado. Um terço deles dirige empresas que faturam mais de US$ 1 bilhão por ano. Globalmente, a confiança aumenta desde 2002 entre as empresas, com a saída da recessão ou do crescimento baixo. Na Ásia, 45% estão muito confiantes (43% em 2004), enquanto nos Estados Unidos houve uma brusca queda de 55%, no ano passado, para 38%, neste ano. Mas os menos otimistas são os executivos europeus, refletindo a própria desaceleração da economia continental. Só 31% deles estão muito confiantes, comparado a 58% no ano passado. No geral, surpreendentes 91% manifestam algum grau de confiança no futuro. A confiança prevalece em relação às ameaças que pairam sobre o crescimento econômico. Aparentemente, os executivos aceitaram maiores níveis de riscos como inevitáveis e incorporaram essa suposição em suas decisões, avalia a consultoria. Além do excesso de regulamentações, estão no topo da lista de principais ameaças potenciais à expansão dos negócios questões como: a pressão causada por menores custos dos concorrentes, perda de talentos, flutuação dos preços do petróleo e das moedas, volatilidade dos mercados e terrorismo. Mas o terrorismo, que domina a agenda da administração de George W. Bush nos EUA, é visto como uma ameaça global (36% do total) menor do que o crescente custo de programas de seguridade social (46%). Nesse contexto, em que a flutuação da economia é conduzida pelo grau de confiança, 61% dos executivos dizem ter aumentado o capital investido; 54% expandiram pesquisa e desenvolvimento; 54% aceleraram planos de expansão; 52% fizeram novas contratações; e metade abriu novas fábricas e/ou escritórios. Em resposta ao risco trazido pela baixa de custos dos concorrentes, 371 CEOs, ou 28% do total, dizem estar engajados em offshoring. As companhias da América do Sul aparecem como as mais engajadas em offshoring, seguidas das asiáticas, européias e, por último, as americanas. As mais inclinadas a fazer offshore para terceiras partes sao igualmente as sul-americanas, bem mais que as européias e as asiáticas. "Os sul-americanos são agressivos nos dois lados do offshoring para cortar custos", diz o CEO da PricewaterCoopers. No contexto de ameaças ao crescimento dos negócios e emergência de práticas como o offshoring, mais executivos indicam que sistemas de governança e processos, administração de riscos em escala global e conformidade com uma crescente rede de regulamentações são difíceis, custosos e tomam muito tempo, mas compensam. A pesquisa confirma que os escândalos envolvendo grandes corporações (Parmalat, Enron etc.) fazem emergir uma nova percepção sobre a importância e os ganhos com governança, administração de riscos e conformidade (GRC, em inglês). Dos 1.300 CEOs consultados, 43% consideram que GRC traz vantagem competitiva e os benefícios superam os custos, ao melhorar a reputação das marcas e a confiança dos acionistas. Mas as respostas demonstram que os executivos enfrentam numerosos desafios quando se trata de implementação e de realizar esses benefícios. A maioria dos CEOs acredita que pode responder a questões de GRC (como leis, regulamentações etc) em suas operações domésticas, em mercados que conhecem bem. Mas apenas 25% dizem que podem responder a leis no exterior. Já os sul-americanos se sobressaem nos dois itens, mostrando-se mais confiantes do que americanos, europeus e asiáticos para se submeter no país e no exterior ao emaranhado de leis, códigos de conduta etc. A pesquisa mostra, por outro lado, que uma parte das empresas nos EUA não está implementando a Sarbanes-Oxley Act, lei que visa reforçar a governança das companhias no rastro de recentes escândalos no maior mercado do planeta.