Título: A força dos sucos prontos fora do país
Autor: Daniela D'Ambrosio
Fonte: Valor Econômico, 26/01/2005, Empresas &, p. B1

Na lata ou na caixinha, escrita em árabe, inglês, francês e português, a origem do produto é identificada - em destaque - pelo selo "Brazilian Product". Detalhe: a empresa é mexicana. A Del Valle , líder do segmento de sucos prontos no Brasil, com 26,5% de participação de mercado, tornou o país plataforma de exportação do grupo para para o mundo, enquanto o México concentra-se nas vendas para América Central e Estados Unidos. A partir do Brasil, a empresa exporta para 30 países e a meta, de acordo com Dario Chemerinski, gerente de exportação, é chegar a 50 países em 2006. O México negocia com cerca de 20 países. A Del Valle brasileira está lançando, pela primeira vez, um suco exclusivo para o mercado externo. No sabor pêra, o suco será exportado em embalagens confeccionadas nos idiomas árabe, francês, inglês e português. A empresa não está sozinha na empreitada. Enfrenta uma forte concorrência interna de empresas como Sucos Mais, Wow e até fabricantes de suco em pó, como a General Brands. O suco brasileiro pronto está cada vez mais competitivo. Nem o câmbio desfavorável esmorece as exportações das empresas brasileiras do setor. Dois fatores contribuem para o cenário positivo. O cerco, cada vez mais intenso, dos países desenvolvidos aos refrigerantes - questão inserida na ofensiva mundial a favor do consumo de produtos saudáveis por conta do aumento da obesidade, sobretudo infantil (a Bélgica, por exemplo, proibiu a venda de refrigerantes nas escolas de ensino fundamental). Outro ponto favorável ao produto é o apelo das frutas tropicais brasileiras, que caiu no gosto de diversos países, e da qualidade da água. Além da Europa, que está abrindo as suas portas ao suco brasileiro, outros dois importantes mercados não param de crescer: África e alguns países do Oriente Médio. "Com calor o ano inteiro, falta de água e boas frutas para sucos, além de uma maior estabilidade econômica e política, parte da África surge como um mercado potencial", diz Chemerinski, da mexicana Del Valle. Atualmente, 50% das exportações da empresa são destinadas ao mercado africano. "O continente tem uma característica interessante: os vendedores de rua, informais, são o principal canal de venda. É imprescindível que os distribuidores cheguem lá." No ano passado, a Del Valle exportou a partir do Brasil 8 milhões de litros e projeta exportar 11 milhões em 2005 - um aumento de 37,5%. Os sucos na versão light exportados para o mundo todo, inclusive nos países clientes do México, são feitos no Brasil. Em 2003, as vendas externas responderam por 5% do faturamento no Brasil, que foi de R$ 165 milhões. Os dados de 2004 ainda não estão fechados. A Sucos Mais, com 12% do mercado segundo AC Nielsen, exporta 20% do faturamento - de R$ 100 milhões em 2004- e pretende dobrar o valor em 2005. O produto está em 16 países e seu principal comprador é Cabo Verde, seguida por EUA, Angola e Japão. Os sucos em pó também são fortes lá fora, sobretudo na África, em função do preço competitivo e frete mais barato. Um contêiner comporta 480 mil saquinhos (cada um prepara 1 litro de de suco), enquanto para transportar 480 mil litros de suco pronto são necessários cerca de 17 contêineres. A General Brands, que possui a marca Camp, exporta para 25 países cerca de 8% da sua produção e pretende ampliar para 10% este ano. No momento, as empresas de sucos são o principal alvo das grandes indústrias de bebidas e o desempenho nas exportações um diferencial importante. Apesar de ainda não confirmada oficialmente, é dada como certa a compra da Sucos Mais pela Coca-Cola.