Título: Jobim agradece a Lula a chance de mudar a aviação
Autor: Nakamura, Patrícia
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2007, Política, p. A8

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, mostrou em público entusiasmo com seu cargo. "Aproveito para agradecer ao presidente Lula o convite para esse ministério, de participar do processo de mudança de estrutura da aviação brasileira, Quero mostrar a minha obstinação para participar desse processo", disse ontem o ministro, durante cerimônia de contrato de venda de até 75 aviões Embraer 195 à companhia aérea BRA.

É a primeira vez que Luiz Inácio Lula da Silva e Jobim participam de evento público depois da posse do ministro. "O tráfego aéreo brasileiro está se encaminhando para uma solução, que prevê regularidade, pontualidade e segurança", afirmou. "Dos grandes aviões e muita gente, a aviação se direciona agora para vôos regionais e sem escalas". Além do presidente Lula e Jobim, também estiveram presentes no evento os ministros do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Miguel Jorge, da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, e Juniti Saito, comandante da Aeronáutica. Em discurso, Lula disse que a aviação brasileira deve se estruturar para atender a um maior número de pessoas. "O brasileiro está recuperando renda, as agências de turismo estão oferecendo financiamentos, e o avião não pode ser mais encarada como uma viagem de luxo, mas sim como um direito de transporte", afirmou. O presidente também reconheceu as dificuldades encontradas pelas companhias brasileiras de adquirem aeronaves produzidas no Brasil. Por conta de distorções fiscais, era menos oneroso comprar aviões de fabricantes estrangeiros.

Lula foi a São José dos Campos no Boeing 737 da FAB, o conhecido "sucatinha" e disse ao presidente da Embraer, Frederico Curado, que não comprou uma aeronave brasileira porque elas ainda não são capazes de cumprir rotas transoceânicas. O presidente repetiu durante o discurso sua aflição ao voar. "Eu sou muito corajoso, pois toda vez que entro num avião eu entrego minha vida à Deus". Lula também mostrou espanto ao visitar a linha de produção. "É muito diferente visitar uma aeronave pronta e uma semi-acabada, com aquele monte de garrancho, mas o avião parece a gente quando acorda: fica com a cara feia de manhã e vai melhorando ao longo do dia".

É a primeira vez que uma companhia aérea brasileira adquire aviões comerciais da Embraer. A BRA adquiriu 20 unidades do modelo 195, um negócio que movimentou US$ 730 milhões. A companhia aérea regional também aumentou de 20 para 55 o número de opções de compras do mesmo modelo. Se as opções se confirmarem, o negócio poderá chegar a US$ 2,7 bilhões. O presidente da BRA, Humberto Folegatti, disse que "tem sonho" de adquirir até 100 aeronaves num prazo de cinco anos, por conta do aumento da aviação regional. O executivo não definiu em quais rotas o avião será empregado, mas poderá ser usado tanto no Brasil como no exterior. O executivo ainda estuda a forma de captação de recursos para a aquisição de aeronaves, que deve contar com o BNDES e até mesmo de um eventual aumento de capital: "Está nos planos da companhia".

O presidente da Embraer, disse esperar que a compra feita pela BRA possa abrir novas portas para as companhias aéreas brasileiras. Já houve aumento no ritmo de produção para atender aos novos pedidos. Os primeiros aviões serão entregues à BRA em meados do ano que vem, estendendo-se até 2010 ou 2011.