Título: Unibanco deve levar plano ao governo em alguns dias
Autor: Vanessa Adachi
Fonte: Valor Econômico, 26/01/2005, Empresas &, p. B3

A Varig e o Unibanco, contratado para assessorar a companhia em sua reestruturação, apresentam já nos próximos dias as linhas gerais de um plano de recuperação ao vice-presidente da República, José Alencar. O banco tem trabalhado intensamente na elaboração de alternativas, com reuniões quase que diárias com a companhia aérea. "Não se pode perder mais tempo", diz uma fonte que participa do processo. Hoje, executivos do Unibanco têm reunião com membros da Fundação Rubem Berta, a controladora da Varig, para bater o martelo sobre o que será levado a Alencar. O encontro com o vice-presidente e Ministro da Defesa pode acontecer ainda nesta semana. Por enquanto, o que será levado ao governo é apenas um escopo geral da proposta. O detalhamento virá depois. A reestruturação da Varig deverá contemplar uma reformulação financeira, que se refletirá em uma nova estrutura societária. Além disso, haverá um plano para a área operacional, com o objetivo de tornar a Varig mais eficiente e, portanto, auto-sustentável. Segundo fontes consultadas pelo Valor, a proposta não fugirá muito da seguinte fórmula: um equacionamento da dívida com o governo, com possível encontro de contas; desconto de dívida e alongamento de prazo com credores privados; transformação de dívida em capital para os credores que aceitarem; capitalização com recursos de novos acionistas ou governo. "Não há o que inventar", diz uma fonte que acompanha de perto o processo. "É uma questão de calibrar essas variáveis e fazer a conta fechar." Para alguns analistas, um dos gargalos da reestruturação deverá ser justamente a parte operacional. Cortes de custos bastante profundos deverão ser sugeridos, o que pode ser um grande obstáculo numa empresa controlada por seus funcionários. A Fundação terá sua participação acionária na Varig muito diluída. Praticamente, a FRB perderá o controle acionário. Hoje, a Fundação, por meio da FRB-Par, detém 55% do capital votante da Varig. Em tentativas passadas de recuperação da companhia, a Fundação ofereceu resistência. Em 2002, um plano semelhante ao atual não prosperou porque a Fundação rejeitou os termos. Na ocasião, um comitê de credores, capitaneado pelo próprio Unibanco, elaborou uma proposta de renegociação da dívida. A tão falada fusão com a TAM, que foi discutida ao longo de todo o ano de 2003, também esbarrou, entre outras coisas, na relutância da Fundação em ter sua participação diluída para 5%. Fontes ligadas à empresa garantem que os membros da FRB estão dispostos a ter a posição acionária reduzida, desde que ocorra uma capitalização da Varig. Nos últimos meses, o governo federal chegou a elaborar um plano de intervenção na Varig. Uma medida provisória que previa separar a parte ruim da companhia e entregar a parte boa a um novo controlador chegou a ser redigida. Mas a idéia foi deixada de lado.