Título: CPI quebra sigilos de diretora da Anac
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2007, Especial, p. A14

A CPI do Apagão Aéreo do Senado quebrou ontem os sigilos bancário, fiscal e telefônico de Denise Abreu, diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), e de mais nove pessoas ligadas à aviação. Ela é acusada de tentar favorecer o amigo e empresário Carlos Ernesto Campos, responsável pelo terminal privado de cargas no aeroporto de Ribeirão Preto, para onde a diretora teria a intenção de repassar concessões milionárias.

A acusação foi feita inicialmente pelo ex-presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, que depois, na CPI, minimizou suas própria denúncia. Denise nega qualquer favorecimento. A diretora também é acusada de envio de documentos falsos ao Tribunal Regional Federal de São Paulo com objetivo de liberar o uso da pista do aeroporto de Congonhas. O Ministério Público de São Paulo investiga a denúncia. "Se não houve crime, houve má-fé, o que pode dificultar a permanência dela na Anac", diz o relator da CPI, senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

Além da diretora da Anac, a comissão quebrou o sigilo de diversas pessoas que trabalharam na Infraero durante o período da administração do hoje deputado Carlos Wilson (PT-PE). Três foram diretores da estatal: Marco Antônio de Oliveira (administrativo), José Wellington Moura (comercial) e Eleuza Therezinha Lores (engenharia).

Eleuza é acusada de irregularidades nas reformas do aeroporto de Congonhas (SP). Moura, por sua vez, foi afastado em junho deste ano depois de a Controladoria-Geral da União (CGU) investigar diversos contratos firmados pela Infraero.

Demóstenes revela que a comissão inicia nova fase, com foco mais intenso nas denúncias de corrupção na Infraero durante a administração de Wilson. O deputado presidiu a estatal de 2003 a 2006. O parlamentar quer analisar todos os dados fornecidos pelas quebras de sigilo para, em seguida, convocar Wilson, que já depôs na CPI da Câmara há mais de um mês.

A CPI ouviu ontem o depoimento do presidente da Infraero, Sérgio Gaudenzi, empossado no cargo há oito dias. Gaudenzi falou sobre iniciativas que tomou para melhorar a fiscalização. Pediu ao Tribunal de Contas da União que analisasse os contratos de licitação. Em reunião com os ministros da CGU, Jorge Hage, e da Defesa, Nelson Jobim, na segunda-feira, Gaudenzi pediu pente-fino da controladoria sobre os demais contratos e atos da Infraero. "Tem gente que não gosta da CGU. Pois eu quero a CGU dentro da Infraero, colada."

O presidente da Infraero anunciou a indicação de novo diretor comercial da estatal. "É uma área crítica da empresa. Há um número enorme de contratos, que, na sua maioria, foram repactuados sem licitações. São 9 mil contratos", disse Gaudenzi, que pretende também pedir à CGU que analise os contratos de concessão das áreas destinadas aos aeroshoppings e aos estacionamentos dos aeroportos. "É uma diretoria fundamental, por que é a que mais arrecada. Toda aquela área que se transforma num shopping terá de ser revista do ponto de vista dos contratos", disse o presidente da estatal.

Gaudenzi anunciou também que pretende criar um sistema mais ágil de informação ao usuário. "As informações prestadas pelas empresas precisam melhorar. O que revolta o passageiro, mais do que o atraso, é a falta de informação", disse. Gaudenzi quer um sistema que avise qual é o tempo exato de atraso do avião e em qual horário ele vai decolar. "Não tem sentido deixar as pessoas seis horas nos aeroportos."