Título: Madeireiros ameaçam ferrovia da Vale
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2007, Empresas, p. B8

A Estrada de Ferro Carajás (EFC), da Companhia Vale do Rio Doce, que liga o porto de Ponta da Madeira em São Luiz no Maranhão a província mineral de Carajás, no Pará, está sob nova ameaça de invasão. Por sua posição estratégica numa região de conflitos de terra, a EFC já foi ocupada por índios em 2006 e ameaçada de interdição por quilombolas no início deste ano. Desta vez são madeireiros que tiveram 40 áreas fechadas e 5 mil metros cúbicos de madeira apreendidos pelo Ibama, por extração ilegal na Reserva Biológica de Gurupi, último reduto remanescente da floresta amazônica no Maranhão.

Ontem, a Vale analisava se entrava na Justiça para pedir a desocupação da EFC, caso os invasores cumprissem a promessa, o que não havia ocorrido até o início da noite . Além de ameaçar a estrada-de-ferro da mineradora, o que foi noticiado nos jornais maranhenses, os madereiros interromperam há quatro dias o tráfego na rodovia BR-222, em Buriticupu (MA), onde 2 mil pessoas estão desde o dia 15 protestando contra a ação de desocupação da área feita pelo Ibama.

Aristides Neto, coordenador de fiscalização e operações do Ibama, disse ao Valor que foi informado das ameaças a ferrovia da Vale pela mídia, mas admitiu que a situação na região era muito tensa, com os manifestantes agredindo e apedrejando carros da polícia rodoviária federal, chegando até mesmo a tocar fogo na máquina que o Ibama alugou para retirar a madeira extraída ilegalmente, além de queimar um posto da Polícia Rodoviária Federal.

Neto contou que o diretor de fiscalização do Ibama, Flávio Montiel, chegou domingo à zona de conflito. "Hoje (ontem) está havendo uma reunião em Buriticupu com a presença de Montiel, da superintendente do Ibama em São Luiz, dra. Marluze, da gerente do Ibama em Imperatriz (MA), Adriana Soares, e representantes da polícia rodoviária federal para definir o que fazer. A decisão tem de ser de política pública, pois a questão de Buriticupu é sobretudo policial. Eles (os madeireiros) obstruíram a estrada e a polícia tem de desobstruí-la para o Ibama continuar o seu trabalho de fiscalização e retirada da madeira", disse Neto.

Ele contou que o Ibama está desde fevereiro tocando a operação de desocupação da reserva de Gurupi, de 251 mil hectares. Foram fechadas 40 madeireiras ilegais na região, que tem também pessoal assentado pelo governo maranhense. "Estamos cadastrando todas as pessoas, tanto as de boa fé, quanto as de má fé para saber quem vive na região. Já conversamos com o governo do Maranhão sobre os assentados. A confusão começou quando iniciamos a remoção da madeira extraída ilegalmente".

O executivo do Ibama afirmou que a intenção do órgão é continuar neste trabalho até o final do ano. "Estamos retomando a área que ficou abandonada. Mas o problema da extração de madeira envolve muita gente graúda, o que dificulta nosso trabalho. Aquela é uma região sem lei".

A Vale não desconhece as dificuldades de lidar com situações de conflito na região Norte. "A empresa tem se sentido refém de grupos de pressão por interesses diversos. Muitas das reivindicações desses grupos dizem respeito ao Estado e não a uma empresa privada, como a questão dos índios em relação a Fundação Nacional de Saúde. Agora surgem os madeireiros que querem regular a extração de madeira em reserva florestal. Este tipo de prática que leva a paralisar a ferrovia é ilegal", disse a direção da Vale através de sua assessoria.

Em 2006, a EFC, que se estende por 7 mil quilômetros, foi interditada e teve 13 metros de trilhos arrancados por índios Guajajaras, Krikati, Canela, Awa Guja e Urubu Ka' Apor que exigiam melhor atendimento de saúde. No início deste ano, os quilombolas do Maranhão se revoltaram porque as chuvas atrasaram obras de uma ponte e a pavimentação de uma estrada dentro do prazo acertado com a Vale, em acordo feito para ceder uma área de servidão, no município de Moju, para passagem do mineroduto. A EFC transporta minério de ferro, manganês, ferro-gusa e soja para o porto de Ponta da Madeira, também da Vale, além de transportar 1 mil passageiros diários.