Título: Gasto da União com remédios deve aumentar 15% e alcançar R$ 4 bi
Autor: André Vieira
Fonte: Valor Econômico, 26/01/2005, Empresas &, p. B6

Asfixiada por seis anos consecutivos de encolhimento do mercado, a indústria farmacêutica deve respirar pelo segundo ano seguido. Os gastos do governo federal com a compra de medicamentos - que representam cerca de um terço das vendas do setor - devem aumentar cerca de 15% neste ano. A recuperação da renda também deve empurrar para cima as vendas de remédios na rede de farmácias. Segundo dados do Ministério da Saúde, os investimentos do programa de distribuição gratuita de remédios pelo Sistema Único de Saúde (SUS) devem chegar a R$ 4 bilhões em 2005, cerca de R$ 500 milhões acima do valor registrado no ano passado.

"Tudo indica que as vendas devem continuar crescendo", diz o presidente da Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Febrafarma), Ciro Mortella. A recuperação da renda e o aumento dos gastos públicos devem, segundo ele, impulsionar o setor novamente. "O ano passado foi um ano interessante porque quebrou as perdas sucessivas registradas pelo setor desde 1997", diz "Temos ainda de aguardar se 2005 reforçará essa tendência de recuperação." De acordo com dados ainda preliminares da Febrafarma, as vendas em unidades de medicamentos devem ter fechado o ano com alta de 11%. Em faturamento, o saldo é ainda maior: alta de 23% em dólar, segundo IMS Health até os 12 meses encerrados em outubro. O efeito da valorização do real inverteu o sinal negativo de alguns balanços de multinacionais. Os dados contrariam os números divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o instituto, a produção física da indústria farmacêutica registrou queda de 8,3% em novembro, a maior baixa em todos os segmentos analisados. No acumulado do ano, a produção física ainda mostrava alta de 0,9%, abaixo do índice de crescimento de 8,3% da indústria em geral. O desempenho da indústria farmacêutica também ficou aquém do resultado do segmento de bens não-duráveis (3,8%). Intrigada pela diferença nos resultados, a Febrafarma foi a campo tentar descobrir os motivos. Com produção crescendo lentamente e as vendas físicas subindo velozmente, a entidade avaliou que as importações poderiam responder por boa parte do resultado. Os dados mais atuais da balança comercial mostram, contudo, que as compras externas de produtos farmacêuticos acabados tiveram crescimento de meros 3%. Em valores, as importações no ano passado cresceram pouco menos de US$ 200 milhões e não tiveram grande impacto nos US$ 7 bilhões vendido pela indústria farmacêutica ao varejo brasileiro. "Há alguns problemas na amostra levantada pelo IBGE porque a pesquisa não se restringe apenas a fabricação de remédios", diz o economista da Febrafarma, Luís Diório. Em 2002, o IBGE atualizou sua pesquisa industrial para permitir a comparação estatística com outros países e adotou as quantidades produzidas pelos diversos setores industriais como forma de medir a evolução da indústria. No caso da farmacêutica, a nova nomenclatura passou a captar, em vez das classes terapêuticas dos medicamentos, a quantidade dos princípios ativos produzidos no país. "A nova técnica, mais apurada, alinha os dados com as estatísticas internacionais", explica o coordenador da pesquisa do IBGE, Sílvio Salles. A Febrafarma avalia que o IBGE segue uma metodologia moderna, mas entende que a pesquisa inclui também alguns itens além da fabricação de medicamentos, o que pode explicar as diferenças entre os resultados. A pesquisa do IBGE divide a indústria farmacêutica em quatro grupos: farmoquímicos, medicamentos para uso humano, para uso animal e equipamentos médicos, hospitais e odontológicos. "A pesquisa analisa a produção de adesivos, algodão, estojo de primeiros socorros, cimento para obturação, ou seja, produtos sem vinculação com a produção de remédios", diz Diório. Ele lembra também que a pesquisa mede a produção física por quilo e concorda com a tese de que mudanças formuladas nos princípios ativos - principalmente com a introdução dos genéricos - podem alterar o peso dos produtos. "Isso também afeta." A Febrafarma prefere acompanhar a sondagem industrial medida pela Fundação Getúlio Vargas. Os dados da FGV indicam que o setor opera em ociosidade superior a 30%. Mudanças no mix dos produtos também podem somar-se ao resultado final.