Título: Para CNA, concentração reduz renda de criador
Autor: Alda do Amaral Rocha
Fonte: Valor Econômico, 26/01/2005, Agronegócio, p. B8

Apesar do forte avanço das exportações brasileiras de carne bovina no ano passado, os pecuaristas alegam estar sofrendo "uma perda de renda notória" por conta do aumento dos custos de produção e pelos preços considerados "baixos" pagos pela arroba do boi gordo no mercado interno. Para o presidente do Fórum Nacional Permanente da Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antenor Nogueira, "alguns elos da cadeia produtiva estão ganhando muito, mas esses ganhos não estão sendo divididos equitativamente". Ele atribui esse quadro a uma suposta concentração no setor de frigoríficos de carne bovina no país. Estudo realizado pelo Cepea/USP e pela CNA, e citado por Nogueira, mostrou um aumento de 10,1% nos custos de produção da pecuária de corte em 2004. O levantamento considera os custos médios apurados em nove estados produtores de gado. No mesmo período, quando as exportações brasileiras de carne bovina saltaram para US$ 2,5 bilhões - ante US$ 1,55 bilhão em 2003 -, a arroba do boi gordo recuou 0,03%, em média, conforme o estudo. Enquanto isso, disse Nogueira, "houve uma recuperação significativa no preço da tonelada exportada", que subiu 14%. E os preços da arroba no mercado interno seguem recuando, segundo Nogueira. Na comparação com janeiro de 2004, o preço médio da arroba caiu 2,6% este mês, para R$ 59,54, informou. "Queremos discutir esse assunto com as empresas, mas se não houver uma solução poderemos usar os elementos jurídicos necessários para denunciar a concentração dos frigoríficos". Nogueira avalia que tal concentração abre "possibilidade para a manipulação de preços". Além das exportações, Nogueira apontou também números do mercado interno para provar que o setor produtivo vive distorções. Entre janeiro de 2003 e janeiro de 2005, a arroba do boi subiu 2,2%. No mesmo período, o preço da carcaça bovina no atacado subiu 13,2% e a carne teve alta de 14,7% no varejo, informou Nogueira. Apesar de acreditar que o país continuará avançando no mercado externo, o representante da CNA disse que a produção de gado está desestimulada no país por conta dos preços pagos ao pecuarista. Um sinal do desestímulo é o abate de matrizes, que está acima da média, disse. Entre janeiro e setembro de 2004, a média de abate de matrizes foi de 35% do total de animais, enquanto que o "normal" seria um percentual de 25%. A menor oferta de matrizes pode levar à queda da oferta de bezerros, a partir de 2006, explicou.