Título: Risco-país desliga-se dos 'fundamentos'
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 26/01/2005, Finanças, p. C2

O risco-país caiu ontem 1,65%, para 416 pontos-base. O interesse pelos bônus da dívida externa brasileira negociados no mercado secundário de Nova York aumenta ou diminui exclusivamente em função do sobe-e-desce da procura pelos títulos do Tesouro americano. Há uma semana, o risco-país estava em 438 pontos-base, e foi cedendo aos poucos conforme se reduziam os juros americanos de longo prazo. Os treasuries de 10 anos oscilam entre 4,12% e 4,13% depois que as manifestações públicas de dirigentes do Federal Reserve (Fed) confluíram todas para uma despreocupação com a taxa de inflação nos EUA. Há um mês os títulos de 10 anos rendiam 4,30% ao ano. Já desanuviou-se a maior parte da tensão com a qual o mercado cercava a primeira reunião do ano do Comitê de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) do Fed, marcada para a quarta-feira da semana que vem. O amplo consenso é de que o juro básico dos EUA subirá o já programado 0,25 ponto percentual, de 2,25% para 2,5%. Esse compasso de alta- conjugado com a desvalorização do dólar no mercado internacional -, amplia o poder de sedução dos papéis de emergentes. O risco-Brasil cai sem ligação direta com os fundamentos econômicos internos. Mas, segundo analistas, este cenário está com os dias contados.

Investidor se aproveita de juro externo ainda baixo

A redução das reservas cambiais denominadas em dólar - conseqüência do fato de que a depreciação da moeda anula a rentabilidade dos treasuries - impõe a necessidade de uma expansão dos juros americanos independentemente do estado letárgico da inflação. A expectativa é de que os juros dos T-Notes de 10 anos irão subir 1 ponto percentual até o final do primeiro semestre. Com isso, a perspectiva é de que o risco-país voltaria a gravitar mais em torno dos 500 pontos-base do que, como atualmente, dos 400 pontos-base. E quando o mercado de emergentes mostra-se ruim freqüentemente se apela para a justificativa da deterioração dos fundamentos. O principal deles promete de fato adquirir feição menos positiva nos próximos meses.

A dívida líquida comparativamente ao PIB irá desviar-se da trajetória de queda descrita em 2004. Mantido o superávit primário em 4,25%, as variáveis que compõem aquela relação irão assumir rotas ingratas: a dívida irá crescer por força da perseguição, pelo Banco Central, de um juro real de 12% ao ano, e a expansão do PIB diminuir dos 5% em 2004 para a faixa entre 3,5% e 4% este ano. Com movimento reduzido a menos da metade, o dólar fechou ontem em alta de 0,41%, cotado a R$ 2,6920. A oscilação da moeda foi tímida e sempre acompanhando o vaivém externo. Fechado ontem por causa do feriado paulistano, o mercado futuro de juros da BM&F retoma atividades hoje refletindo dados antagônicos divulgados ontem: a elevada utilização da capacidade instalada da indústria, de 83,6%, dado que pode ressuscitar os temores do BC relativos a uma inflação de demanda, choca-se com a queda, em dezembro, do rendimento médio anual, o que retira pressão sobre os preços. A ser divulgado hoje, o IPCA-15 de janeiro poderá mexer com os juros se contrariar a expectativa média do mercado, de 0,65%.