Título: Juro médio sobe para 45% ao ano
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 26/01/2005, Finanças, p. C2

Os efeitos do atual ciclo de alta dos juros básicos sobre os custos dos empréstimos têm sido, até agora, relativamente restritos. O aperto na política monetária está sendo mitigado por uma mudança estrutural no mercado de crédito: o avanço dos empréstimos consignados em folha de pagamento, que têm taxas menos elevadas, e a queda no uso do cheque especial, linha com os juros mais caros do mercado. De agosto passado, um mês antes de o BC iniciar o aperto na política monetária, até dezembro, os juros médios nos empréstimos livres a pessoas físicas jurídicas subiram cerca de um ponto percentual, de 43,9%% para 45% ao ano. É uma alta relativamente pequena: de setembro a dezembro, a taxa básica se elevou em 1,75 ponto percentual, de 16% para 17,75% ao ano. Mas o aperto na política monetária não passou em branco: provocou alta nos custos de captação, que passaram de 16,4% para 17,7% ao ano entre agosto e dezembro. Esse encarecimento foi repassado aos clientes. Mas seus efeitos são pouco sentidos nas taxas médias, graças à maior difusão do crédito consignado. Esse segmento tem juros mais baixos que a média do mercado e produz um efeito estatístico importante sobre os números do crédito. Na maior parte das linhas, quem toma novos empréstimos paga mais caro. No caso do cheque especial, a taxa passou de 140,1% para 144% ao ano, entre agosto e dezembro; na aquisição de bens (exceto veículos), passou de 58,8% para 66,9%. Houve, ainda, alta nos juros do crédito consignado, de 38,54% para 40,67% ao ano, em uma amostra reunida pelo BC com 13 instituições financeiras. A despeito dessa alta, porém, os juros da linha para pessoas físicas que mais cresce - os empréstimos pessoais - caíram de 73,8% para 70,8% entre agosto e dezembro. Essa redução se deve ao efeito do crédito consignado, com taxa que equivale a metade do crédito pessoal tradicional. Não há dados estatísticos completos sobre o segmento, mas o BC começou a coletar dados do crédito consignado em janeiro de 2004, com um conjunto de 13 bancos, que respondem por cerca de 80% do crédito pessoal. Na amostra, o volume quase dobrou, passando de R$ 6,319 bilhões para R$ 12,401 bilhões entre janeiro e dezembro. No mesmo período, o crédito pessoal (incluindo o consignado) avançou 40,99%. Outro efeito estatístico importante é o do cheque especial, que cresceu com menos vigor do que a média do crédito a pessoas físicas em 2004 - 9,87%, passando de R$ 8,919 bilhões para 9,799 bilhões. Com isso, sua participação no total a pessoas físicas caiu de 10,12% para 8,63%. Essa menor importância do cheque especial teve um efeito estatístico importante sobre as taxas de juros médias dos bancos, puxando-as para baixo. (AR)