Título: Bancos privados passam públicos na concessão de crédito em 2004
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 26/01/2005, Finanças, p. C2

Os bancos privados tomaram a dianteira na disputa pelo mercado de crédito em 2004: cresceram 19,6%, ritmo mais intenso do que o dos bancos públicos, que avançaram 14,8%. É uma reviravolta em relação ao que vinha sendo observado no atual ciclo de expansão de crédito, que, num primeiro momento, foi puxado pelas instituições oficiais. O volume de crédito total na economia chegou a 26,3% do Produto Interno Bruto (PIB), maior percentual desde setembro de 2002. A estratégia mais agressiva dos bancos privados permitiu que, em 2004, eles recuperassem parte do terreno perdido um ano antes para os bancos públicos. Em meados de 2003, quando o Banco Central começou a afrouxar a política monetária, as instituições públicas foram as primeiras a apostar - com oferta ativa de crédito e corte de juros - em uma retomada consistente da atividade econômica. Na época, tal comportamento chegou a ser apontado como arriscado por alguns analistas, que alertaram para o risco de aumento de inadimplência, caso a recuperação econômica não se confirmasse. Como o cenário otimista prevaleceu, os bancos públicos saíram ganhando: elevaram de 38,04% para 40,53% sua fatia de mercado no crédito total (incluindo o crédito direcionado, como habitacional e rural, e o livre, com condições livremente pactuadas), entre dezembro de 2002 e de 2003. A taxa de inadimplência recuou, de 8,6% para 7,3%, entre 2002 e 2004.

Os bancos privados despertaram um pouco mais tarde para o avanço do crédito - e, para recuperar terreno, agiram mais rápido em 2004. Sua participação no mercado saltou de 59,47% para 60,45% no ano. Mesmo com essa reação, porém, não foi possível recuperar o tempo perdido. Sua fatia de mercado em 2004 ainda era menor do que os 61,95% verificados dois anos antes. O chefe do Departamento Econômico do BC, Luiz Sampaio Malan, considera saudável para o mercado o fato de os bancos privados terem embarcado na expansão de crédito. "Em 2004, os bancos privados se sentiram mais confiantes para expandir suas carteiras de crédito", disse. "Isso é ótimo, pois significa que a expansão de crédito na economia está ocorrendo de forma equilibrada e consistente." A disputa pelo mercado de crédito está ocorrendo em um cenário de forte crescimento. A participação do crédito em relação ao PIB saltou de 25,8% para 26,3%, entre dezembro de 2003 e 2004. Em volume, avançou R$ 72,581 bilhões, passando de R$ 411,392 bilhões para R$ 483,973 bilhões. O crescimento é ainda mais expressivo quando observado a partir de abril de 2003, um mês antes do BC iniciar o processo de afrouxamento da política monetária: o avanço foi de 2,3 pontos do PIB, saltando de 24% para 26,3%. A expansão se mantém tão forte que ignora até mesmo o mais recente aperto na política monetária. Basta observar o aumento no volume de empréstimos ocorrido a partir de junho de 2003, quando o BC deu os primeiros sinais de que iria elevar a taxa básica (Selic), o que provocou alta nos juros futuros - que têm influência sobre o custo de captação dos bancos e os juros cobrados nos empréstimos. De lá para cá, o crédito em relação ao PIB cresceu de 25,4% para 26,3% do PIB. Mesmo depois de setembro, quando o BC elevou a taxa pela primeira vez (de 16% para 16,25% ao ano), o crédito cresceu o equivalente a 0,6 ponto do PIB. O crescimento do crédito dos bancos privados foi puxado, sobretudo, pelos empréstimos concedidos a pessoas físicas, que avançaram 35,3% em 2004, de R$ 72,615 bilhões para R$ 98,244 bilhões. Entre os bancos públicos, o crescimento também foi robusto (25,8%) no período, mas em um ritmo menos intenso. Sua carteira saltou de R$ 21,816 bilhões para R$ 27,453 bilhões. Outro segmento de crédito bastante dinâmico em 2004 foi o do agronegócio. Os empréstimos ao setor rural avançaram 31,2% (de R$ 16,363 bilhões para R$ 21,464 bilhões) nos bancos privados, percentual superior aos 18,4% observados nos bancos públicos (R$ 28,498 bilhões para R$ 33,743 bilhões). Também se destacaram os empréstimos para o comércio, que avançaram 26,6% nos bancos privados, e 25% nas instituições públicas.