Título: Governo estimula crédito em euro
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 26/01/2005, Finanças, p. C5

O governo quer criar novas opções de financiamento ao comércio exterior em euros, para aproveitar a relativa estabilidade das cotações da moeda européia e permitir aos exportadores e importadores escapar do risco envolvido nas operações em dólar. O assunto foi escolhido como uma das prioridades do Comitê de Financiamento e Garantia das Exportações (Cofig), segundo informou ao Valor o secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior, Mário Mugnaini. O Cofig estuda como remover as restrições legais ao uso de moedas diferentes do dólar para as operações de financiamento a longo prazo pelo BNDES-Exim. "O financiamento em euros interessa, por exemplo, a firmas européias instaladas no Brasil, com exportações para o mercado da Europa", exemplificou Mugnaini. O BNDES-Exim, por ser financiado com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), é, por lei, proibido a operar com moedas diferentes do dólar. O governo poderá propor mudança na lei para oferecer aos exportadores a opção de contratos em euros ao usarem essa linha de financiamento - com juros abaixo de 15% ao ano e prazo de 2,5 anos a até 10 anos. Outras modalidades de financiamento, como o Proex, o Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC) e o Adiantamento sobre Cambiais Entregues (ACE) não têm restrições legais para o uso do euro como moeda de referência, mas o uso de moedas diferentes do dólar representam menos de 5% . O governo pretende divulgar mais a opção dos contratos em euro e ampliar a participação da moeda européia nos financiamentos. Desde agosto, quando começou a ampliar-se a diferença entre as cotações do euro e do dólar em relação ao real, o Banco do Brasil vem realizando financiamentos em ACC e ACE denominados em euro, que chegaram a US$ 280 milhões em 2004, 4% do total de empréstimos do BB a exportadores. O ACC é um empréstimo que financia a produção para a exportação; o ACE financia a entrega do produto exportado ao comprador, no exterior. Ambos funcionam como capital de giro para as empresas de comércio exterior. Como a União Européia absorve cerca de 20% das exportações brasileiras, o banco do Brasil acredita ser possível chegar perto deste percentual nas operações com o euro, comenta o gerente-executivo de operações de comércio exterior do BB, Rogério Lot. "É uma indicação, não uma meta", esclarece. "Para o banco, a vantagem é usar os recursos captados em nossa rede de agências na Europa", diz Lot, ao informar que o BB pretende aumentar a divulgação da opção pelo euro nos financiamentos. Os financiamentos pelo Proex, que cobram taxa muito pequena, equivalente à Libor inglesa (quase 5%), são limitados a pequenas e médias empresas, com faturamento de até R$ 60 milhões. Dos US$ 234 milhões emprestados por essa modalidade no ano passado, pouco mais de 5% foram realizadas em euros, o equivalente a cerca de US$ 13 milhões. "O euro tem a vantagem de ser mais estável em relação ao real", defende Mugnaini. Como a grande maioria das operações de financiamento a exportações e importações é feita atualmente em dólar, exportadores ou importadores têm de arcar com o risco cambial da variação entre dólar e euro, quando as mercadorias são cotadas na moeda européia. Como exemplifica Mugnaini, um importador brasileiro que queira comprar da Alemanha equipamento para fábricas cotado na moeda européia tem de pagar uma taxa de risco (spread) ao contratar financiamento em dólar para precaver-se contra uma possível depreciação do dólar e conseqüente aumento do custo da compra em moeda americana. "O uso do euro vai baratear o seguro de crédito", prevê.