Título: Investidores temem posição mais firme do Fed com os juros
Autor: Rich Miller BusinessWeek
Fonte: Valor Econômico, 26/01/2005, Finanças, p. C6

Com o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, se preparando para a primeira reunião de política monetária do ano, em 1 e 2 de fevereiro, o mesmo vêm fazendo os mercados financeiros. Os investidores temem que Alan Greenspan e seus colegas estejam para trocar sua estratégia de pequenas altas contínuas nas taxas de juros por algo mais agressivo. E essa inquietação é certamente compreensível em função do que mostraram as minutas da reunião de 14 de dezembro do Fed. Segundo esses registros, algumas autoridades de política monetária estão abertamente ansiosas com a possibilidade da erupção de um surto inflacionário. Outros funcionários, num regresso aos comentários de Greenspan sobre a exuberância irracional dos mercados, estão avaliando o que as minutas chamam de "tomada excessiva de riscos" nos mercados financeiros. O que está alimentando essas preocupações? As minutas - que não identificam quem são os preocupados - apontam para o retorno do poder corporativo de fixação de preços, o dólar mais fraco, os custos da energia ainda altos e o lento crescimento da produtividade como sinais de que os preços poderão em breve se acelerar. E nos mercados financeiros, funcionários do Fed citam os baixos rendimentos dos bônus corporativos e a recente retomada das aberturas de capital de empresas e das fusões e aquisições como indicações de que o dinheiro fácil está alimentando a especulação. Portanto, não surpreende que algumas autoridades de política monetária estejam inquietas com as repetidas avaliações de que as altas dos juros serão moderadas. Essas autoridades alertam que o Fed pode precisar ser mais agressivo. "Em algum momento, a linguagem moderada poderá sair dos comunicados do Fed", disse em 13 de janeiro a jornalistas, o presidente do Fed de Saint Louis, William Poole. "Haverá uma reação muito vigorosa [do Fed] se a inflação ameaçar subir para uma taxa maior sustentada." Mas essas preocupações não parecem ter perturbado o homem que comanda o Fed. Colegas dizem que Greenspan não tem dado sinais de pânico e parece satisfeito com a estratégia de pequenas altas contínuas dos juros - um quarto de ponto percentual em cada reunião. Ao mais que dobrar as taxas de curto prazo que controla, de 1% em junho para os atuais 2,25%, o Fed já drenou boa parte do estímulo que injetou na economia depois que a bolha dos mercados de ações estourou e terroristas atacaram os Estados Unidos em 11 de setembro de 2001. De fato, com mais um aumento de um quarto de ponto esperado na reunião de 1 e 2 de fevereiro, as taxas de juros de curto prazo estarão mais próximas dos níveis que alguns funcionários do Fed podem até considerar um breque na seqüência de altas das taxas. "As taxas de juros claramente não se encontram em níveis restritivos, disse o presidente do Fed de Minneapolis, Gary H. Stern em 18 de janeiro. Mas ele acrescentou: "Se mantivermos a inflação baixa, não vejo nenhum motivo para as taxas de juros atingirem níveis particularmente altos". Dando suporte à visão de Greenspan: apesar da alta firme dos juros de curto prazo, os mercados financeiros têm permanecido calmos. Os preços das ações estão subindo e os rendimentos dos bônus estão na verdade mais baixos do que quando o Fed começou a subir os juros, em junho. Em expansões anteriores, a queda das taxas dos bônus de longo prazo sempre sinalizaram a preocupação do mercado com uma possibilidade de enfraquecimento da economia. É improvável que este seja o caso agora. Na verdade, a economia parece estar numa situação bastante boa. As empresas contornaram um grande aumento nos preços do petróleo e o PIB americano parece caminhar para um crescimento de 3,5% a 4% em 2005, afirmam funcionários do Fed. Embora a inflação tenha aumentando um pouco, ela permanece sob controle. Excluindo os custos dos alimentos e da energia, o núcleo do índice de preços ao consumidor subiu apenas 2,2% em 2004. "Não estamos vendo nenhum aumento da preocupação com a inflação a esta altura", disse em 12 de janeiro a jornalistas o governador do Fed Edward M. Gramlich. Embora haja diferenças no Fed sob os riscos de inflação, funcionários do banco central insistem que seria errado exagerá-las. A maior parte da reunião de 14 de dezembro na verdade foi gasta em discussões sobre a crescente confiança do Fed na durabilidade do ciclo de alta da economia. Mas essa conclusão provocou poucas divergências entre as autoridades monetárias e recebeu pouco espaço nas minutas. Como resultado, mais tempo foi dedicado à discussão da inflação, aumentando a importância dessas diferenças. Essa ênfase também pode ter levado alguns investidores a concluírem que o Fed está mais preocupado com a alta da inflação do que parece ser o caso, afirmam insiders do Fed. O que é decisivo mesmo é o que pensa Greenspan. Embora sua influência possa diminuir enquanto se aproxima a hora de ele deixar o cargo, em janeiro de 2006, fontes do Fed afirmam que ele continua sendo o primeiro entre iguais. Ao longo de seus 18 anos no Fed, Greenspan concentrou-se no crescimento da produtividade, nos custos trabalhistas e nas margens de lucro, na tentativa de determinar as perspectivas para a inflação. Não está sendo diferente agora.

Apesar da alta firme dos juros de curto prazo, os mercados financeiros têm permanecido calmos

A mensagem desses principais indicadores? As pressões inflacionárias podem estar aumentando, mas gradualmente. Sim, o crescimento da produtividade diminuiu para 1,8% anualizado no terceiro trimestre do ano passado, o último período com dados disponíveis. Mas esta redução está em cima de níveis extremamente fortes, que por muito tempo Greenspan pensou que fossem insustentáveis. Excluindo a agricultura, a produtividade cresceu 4,4% em 2002 e 2003, um ritmo que deixa para trás até mesmo a Nova Economia da década de 90. E, claro, os custos trabalhistas unitários aumentaram enquanto o ritmo de crescimento da produtividade diminuiu. Mas isso depois que os custos caíram em 2002 e 2003, o primeiro declínio em um ano sobre outro imediatamente anterior desde o começo dos anos 60. As compensações trabalhistas - salários e benefícios combinados - estão crescendo com firmeza, em cerca de 4% ao ano, e dão poucos sinais de aceleração. Isso não é uma grande surpresa dado o modesto crescimento no número de empregos registrado até agora nesta recuperação. As margens de lucro, enquanto isso, parecem estar se estabilizando depois dos grandes saltos do ano passado. Foi essa alta nas margens de lucro que Greenspan identificou como culpada pelo repique na inflação no segundo trimestre. Mas, na medida que os executivos ganham confiança e se tornam mais agressivos, a competição por participação de mercado vai aquecer. Isso vai limitar a capacidade das empresas de repassar os aumentos de custos para os clientes. O resultado provável: um aperto nas margens e um teto na inflação, pelo menos temporariamente. E isso parece ser a mensagem da pesquisa mensal sobre as pequenas empresas feita pela "National Federation of Independent Business". Ela mostra que o poder de fixação de preços atingiu o pico em junho do ano passado. É claro que os riscos de inflação iriam se parecer bastante diferentes para Greenspan se o banco central já não tivesse enxugado a liquidez da economia. Quando o Fed começou um aperto de crédito em junho, as autoridades monetárias disseram que queriam aumentar as taxas de juros, que estavam muito baixas, de volta para níveis de equilíbrio, em que a política monetária não estimula nem segura a economia. No entanto, não está claro qual é exatamente esse nível. Greenspan vem dizendo que vai saber quando ele chegar lá. Mas outras autoridades monetárias têm sugerido que a política monetária estará em ponto neutro quando as taxas de juros atingirem a faixa de 3,5% a 4,5%. Se o Fed prosseguir e subir a taxa referencial para 2,5% em 2 de fevereiro, estará caminhando para esse objetivo. "O Federal Reserve já começou a fazer a transição de uma posição política 'acomodativa' para uma posição neutra", disse Anthony M. Santomero, presidente do Fed de Filadélfia, em 18 de janeiro. Mas, mesmo com o Fed apertando sua posição, as condições financeiras nos mercados ficaram mais frouxas. As taxas de juros de longo prazo estão caindo, os preços das ações subindo e o dólar recuou. Juntos, esses fatores deram um fôlego extra à economia, mais do que compensando o impacto das altas dos juros pelo Fed, afirma o principal economista do Goldman Sachs, William C. Dudley. É por isso que ele e outros argumentam que o Fed poderá precisar elevar os juros mais do que o planejado. É improvável que esse argumento faça Greenspan mudar de opinião. Sob sua tutela, o Fed sempre relutou em ter como alvo qualquer medida das condições financeiras, diz o ex-governador Laurence H. Meyer. Ao invés disso, o banco central se concentra nos motivos pelos quais os preços dos ativos estão mudando e qual o impacto que isso terá sobre a economia. As ações subiram no último ano por causa do crescente otimismo em relação à economia. Essa esperança reforçada também incentivou as aberturas de capital e as fusões e aquisições. Enquanto isso, os rendimentos dos bônus, incluindo os da dívida corporativa, vêm caindo, em parte por causa da crença de que a inflação vai continuar baixa. Não está claro por que qualquer uma dessas coisas deveria preocupar particularmente o Fed, contanto que a economia continue parecendo saudável. Os funcionários do Fed são pagos para se preocuparem - e Greenspan não é exceção. Mas, enquanto ele conduz suas decisões em seu ano final no banco central da maior economia do mundo, ele parece estar tão relaxado quanto um banqueiro central pode ficar.