Título: BC revê projeção do IPCA de 2005 para 5,3%
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 29/12/2004, Brasil, p. A3

O relatório de inflação do Banco Central, divulgado ontem, projeta em seu cenário básico uma inflação pelo IPCA de 5,3% para o ano que vem. O percentual é menor que os 5,6% previstos em setembro, mas permanece acima do objetivo de 5,1% fixado pela autoridade monetária para 2005. A boa notícia do relatório é que, num período de análise um pouco mais longo, a inflação converge para a meta. O percentual projetado para 2006 é de 4%, abaixo da meta de inflação de 4,5% fixada para aquele ano. Se as projeções estiverem corretas, esse declínio abre espaço para um possível afrouxamento da política monetária em algum momento de 2005. A melhora das projeções inflacionárias desde setembro, segundo o relatório, deve-se a três fatores: aperto nos juros promovido pelo BC (a taxa básica subiu de 16,25% para 17,75% ao ano entre um relatório e outro); valorização da taxa de câmbio (de R$ 2,90 para R$ 2,75) e perspectivas mais favoráveis para o reajuste de preços administrados (alta de 6,7% ante 6,9% de um trimestre atrás). Apenas um fator considerado nos modelos de projeção de inflação do BC piorou de setembro para dezembro: a capacidade ociosa da economia, que se tornou ainda menor. "O crescimento do PIB foi muito mais forte do que o embutido nas nossas projeções de setembro", disse o diretor de política econômica do BC, Afonso Bevilaqua. A projeção alternativa feita pelo BC, que toma como parâmetro as trajetórias de juros, câmbio e tarifas previstas pelo mercado, aponta inflação acima do centro da meta. Em 2005, ela ficaria em 6,3% e em 2006, em 5%, acima da meta de 4,5%. As projeções de inflação tornam-se mais elevadas neste cenário porque o mercado trabalhava com juros médios mais baixos, que cairiam para 15,75% ao ano no último trimestre de 2005, e para 14,14% no final de 2006. Câmbio e tarifas também são mais elevados no cenário alternativo do BC. A principal mensagem desse exercício é que o afrouxamento na política monetária com o qual o mercado trabalhava era incompatível com o cumprimento das metas de inflação. Esse descompasso começou a ser corrigido semana passada, quando os juros futuros subiram, após divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC que sinaliza com manutenção de juros elevados por prazo relativamente longo. Para 2004, a inflação projetada pelo cenário básico é de 7,4%, acima do centro da meta (5,5%), mas confortavelmente dentro do intervalo de tolerância de 2,5 pontos percentuais, que admite variação de preços de até 8% neste ano. O relatório assinala que, pela primeira vez desde o terceiro trimestre de 2003, a inflação projetada nos 12 meses seguintes deverá ficar, em meados de 2005, abaixo da trajetória para o cumprimento das metas. Bevilaqua disse ontem que, na definição da política monetária, a trajetória da inflação é importante. Mas ressaltou que o cumprimento da meta no ano-calendário é fundamental, pois é nesses momentos que se afere a eficácia do controle da inflação. No relatório, o BC aponta quatro fatores principais de risco que podem afetar suas projeções de inflação: forte crescimento da economia, expectativas de inflação do mercado, alta volatilidade dos preços do petróleo e forte variação dos preços no atacado, que pode contaminar a inflação do varejo. A preocupação do BC é que a demanda na economia cresça em um ritmo mais forte do que a expansão da oferta. O crescimento recente da economia foi maior que o esperado, diz o relatório, porém há sinais de arrefecimento. "Mas ainda é prematuro indicar qualquer tendência duradoura neste sentido", diz a ata. "É necessário que a política monetária permaneça especialmente vigilante em relação ao ritmo de expansão adicional da demanda." Do ponto de vista da oferta, os dados de investimento indicam tendência de ampliação, mas não em ritmo suficiente para evitar o rápido preenchimento da capacidade ociosa da economia. O relatório registra que houve queda nas projeções de inflação do mercado (até o documento ser elaborado, havia caído de 5,9% para 5,8%; mais recentemente, veio para 5,7%). O BC afirma, porém, que essa redução "pode ser considerada relativamente modesta, tendo em vista os desenvolvimentos recentes que poderiam contribuir para arrefecer as pressões inflacionárias no próximo ano", referindo se ao recuo do dólar, desaceleração da economia e juros mais altos. O BC também renovou a preocupação com os preços do atacado. De janeiro a novembro, o Índice de Preços no Atacado (IPA) industrial subiu 19,05%. O risco é que contamine os preços ao consumidor. "A mera constatação de que o repasse para o varejo não ocorreu até agora com a intensidade observada no passado não permite inferir que essas pressões se desvaneceram e não mais representam um risco latente para a inflação ao consumidor", diz o relatório.